A decisão faz com que Trukhanov deixe de poder continuar a exercer o cargo de presidente da Câmara, criando um vazio de poder em tempo de guerra numa cidade da importância de Odessa.
A lei ucraniana proíbe a posse de cidadania russa, uma vez que é considerada um país inimigo.
Depois de se ter reunido hoje com o chefe do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), Vasil Maliuk, o líder ucraniano anunciou nas suas redes sociais que tinha assinado um decreto para responder à "confirmação de que algumas pessoas têm cidadania russa".
A agência ucraniana Ukrinform e publicações como o Kyiv Independent e o Ukrainska Pravda confirmaram, citando várias fontes, que um dos afetados pela decisão é o presidente da Câmara de Odessa.
A própria SBU publicou mais tarde uma fotografia do alegado passaporte russo de Trukhanov e explicou que uma investigação estabeleceu que o político ucraniano obteve um passaporte russo em dezembro de 2015, quando a Rússia já tinha ocupado a Crimeia e promovido a criação de enclaves separatistas no leste da Ucrânia.
"A cidadania ucraniana do presidente da Câmara de Odessa, Hennadii Trukhanov, foi suspensa", anunciou o SBU na plataforma Telegram.
Trukhanov foi acusado de possuir secretamente um passaporte russo durante uma década, embora o autarca da cidade portuária do Mar Negro tivesse sempre negado estas acusações.
"Nunca recebi um passaporte de cidadania russa. Sou um cidadão ucraniano", reagiu o representante.
Prometeu "continuar a exercer as funções de presidente da Câmara eleito" durante o máximo de tempo possível e assegurou que vai recorrer ao Supremo Tribunal e ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH).
Outrora considerado um político pró-russo, após a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022 criticou publicamente Moscovo, ao mesmo tempo que trabalhou para defender Odessa e ajudar o exército ucraniano.
Trukhanov, antigo deputado, é desde 2014 presidente da Câmara de Odessa, a terceira maior cidade da Ucrânia e um importante porto no Mar Negro, e é também uma figura controversa que tem sido repetidamente implicado em alegados casos de corrupção por investigações jornalísticas.
Os críticos da retirada da cidadania de Trukhanov atribuem-na às alegadas tentativas de Zelensky de centralizar ainda mais o poder à custa de políticos que não lhe são próximos.
O Governo de Zelensky já retirou a cidadania ucraniana ao líder da Igreja Ortodoxa Ucraniana, canonicamente subordinada ao Patriarcado de Moscovo, em julho, por não ter declarado que também tinha cidadania russa.
Kiev considera esta igreja um veículo da influência do Kremlin na Ucrânia.
Uma fonte da presidência ucraniana informou a agência de notícias France-Presse (AFP) que o bailarino Sergei Polunin também viu a sua cidadania revogada pelas autoridades.
Polunin, que tem uma tatuagem do Presidente russo Vladimir Putin no peito, é por vezes descrito como o "bad boy" do ballet pelas suas atuações apaixonadas e declarações controversas.
Deixou subitamente o British Royal Ballet em 2012, depois de ter sido promovido a bailarino principal.
Nascido no sul da Ucrânia, tem nacionalidade russa desde 2018 e apoiou a invasão em 2022 e, anteriormente, em 2014, saudou a anexação da Crimeia pela Rússia, onde viveu e trabalhou.
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