O corpo de Antonio Famoso foi encontrado este sábado na sua casa, no bairro de Fuensanta, em Valência, Espanha, 15 anos após a sua morte. Vizinhos, família, amigos… ninguém deu pela sua falta.
O corpo do espanhol foi descoberto por mero acaso. Um dos seus vizinhos de baixo, ligou para a seguradora do prédio por causa de uma fuga de água através do telhado, e os bombeiros foram chamados. Para aceder ao local, os operacionais decidiram entrar pela janela do apartamento de Antonio, situado no sexto andar, deparando-se com o corpo.
Conta o El País, que o homem, que hoje teria 86 anos, estava num dos quartos, com cerca de cem metros quadrados, completamente vestido. O corpo estava cercado por pombos mortos, insetos e demais detritos - o local estaria imundo.
“O corpo esquelético está em avançado estado de decomposição, mumificado”, afirmaram as autoridades locais.
“Antonio abandonou a família há três décadas”, explicaram fontes da Polícia Nacional, que assumiu a investigação.
Quinze anos antes de morrer, Antonio e a mulher separaram-se. O casal tinha dois filhos, rapaz e rapariga, e, contam vários conhecidos, o espanhol tinha perdido o contacto com o resto do mundo. O dia, dizem, era passado em casa, no supermercado ou em curtos passeios pela rua onde vivia, repleta de arvoredo.
“Era um homem que não incomodava ninguém. Andava sempre sozinho. Quando o parámos de ver, pensámos que ele tinha ido para um lar", recorda Rafael, de 44 anos, o vizinho que, inconscientemente, levou a que o corpo fosse encontrado. A última vez que falou com Antonio, diz, foi em 2010 - o ano em que o idoso morreu.
Xavi, que morava no prédio ao lado, relembra o homem como um reformado desorientado, abatido e solitário - uma espécie de “fantasma”.
“Ele deixou-se ir”, afirma um dos poucos vizinhos que ainda se lembra de Antonio.
Janela aberta terá evitado mau cheiro no prédio
A maioria dos que ainda vive na rua, e que teve contacto com o homem, não o reconhece.
“Aqui não o conhecíamos”, admite uma jovem que trabalha no bar da rua onde Antonio morava. “Ficámos chocados quando soubemos”, acrescenta.
Até ao momento, a Polícia Nacional, que investiga a situação diz não haver “nada de anormal” no caso e que o homem terá morrido de causas naturais.
Rafa, uma das duas pessoas que testemunhou o momento em que a polícia entrou no apartamento, diz que a porta de Antonio não tinha sido arrombada e que se encontrava fechada por dentro.
A caixa de correio do homem, identificada apenas com o seu apelido em adesivo amarelo, também não levantou suspeitas.
“Às vezes, tiramos a correspondência [de caixas cheias] para evitar que possíveis ladrões invadam casas onde acham que não está ninguém”, explica uma outra vizinha. E, de facto, a caixa de correio de Antonio estava vazia.
Quanto ao cheiro que, naturalmente, emana de um corpo em decomposição, não há uma explicação.
Rafael recorda que a sua tia, também uma das vizinhas, notou que havia um mau cheiro no prédio há vários anos, mas que, em poucos, dias desapareceu - e o assunto ficou esquecido.
“Não notámos em nada estranho”, relata um vizinho do primeiro andar.
“A janela por onde entraram os pombos entraram estava aberta. O cheiro deve ter sido ventilado por aí estes anos todos”, especulou outro residente.
Quanto às contas, que deveriam estar em atraso, Rafa também encontra uma explicação fácil: era retirado automaticamente.
Isto porque, apesar de Antonio ter falecido, a Segurança Social espanhola não parou de lhe pagar a pensão - afinal de contas, ninguém sabia da sua morte. Então, durante 15 anos, todos os meses, o dinheiro caiu na sua conta e todos os meses as contas eram pagas.
No final, nem a família nem os vizinhos deram pela falta de Antonio Famoso, que morreu ainda com 70 anos, sozinho, no seu apartamento em Valência - onde ficou durante 15 anos, até ser encontrado por acaso.
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