A saída de Rajoelina do país foi possível graças a um acordo com a possível intervenção do Presidente francês, Emmanuel Macron, para facilitar uma solução pacífica para a grave crise política que Madagascar vive, segundo a emissora francesa, embora as autoridades francesas se tenham recusado a fazer "comentários" às perguntas da agência de notícias espanhola EFE.
Rojoelina voou no domingo para a ilha de Santa Maria, na costa leste de Madagáscar, e de lá embarcou no avião militar francês com destino à Ilha da Reunião, antes de partir para outro destino com a sua família, de acordo com a RFI, que aponta Dubai como possível local de exílio.
Estava previsto que o Presidente de Madagáscar se dirigisse hoje à nação após denunciar, no domingo, uma tentativa de golpe de Estado no país, que vive uma grave crise devido aos protestos populares que ocorrem desde 25 de setembro.
No domingo, a Presidência malgaxe denunciou uma tentativa de golpe de Estado depois de grupos de soldados se terem juntado, sábado, a milhares de manifestantes antigovernamentais na capital, Antananarivo.
Uma unidade militar, o Corpo de Administração de Pessoal e Serviços do Exército Terrestre (CAPSAT), afirmou no domingo ter assumido o controlo das Forças Armadas, depois de ter pedido no sábado para "desobedecerem" a qualquer ordem de disparar contra a população.
O CAPSAT, com sede em Soanierana, nos arredores da capital, já participou em 2009 num golpe de Estado que derrubou o então Presidente, Marc Ravalomanana, e permitiu que Rajoelina chegasse ao poder pela primeira vez.
O Presidente não apareceu em público desde que o CAPSAT deu o seu apoio aos protestos no sábado.
Embora inicialmente tenham surgido para protestar contra os recorrentes cortes de água e eletricidade, as mobilizações, impulsionadas pelo movimento 'Gen Z' (jovens nascidos entre 1997 e 2012), tornaram-se antigovernamentais e exigiram a demissão de Rajoelina, cuja proposta de diálogo nacional foi rejeitada pelos organizadores.
Inspirados em mobilizações juvenis recentes em países como Quénia e Nepal, estes protestos são os piores que a ilha do Oceano Índico vive há anos e o maior desafio que o chefe de Estado enfrenta desde a sua reeleição em 2023.
Pelo menos 22 pessoas foram mortas nas manifestações e cerca de 100 ficaram feridas, de acordo com um balanço da ONU de 29 de setembro, números que, segundo o chefe de Estado, são "errados".
"Houve perdas de vidas humanas que se cifram em 12, e todas essas pessoas são saqueadores, vândalos", afirmou o Presidente ao canal francês Réunion la 1ère.
"Entre as vítimas contam-se manifestantes e transeuntes mortos por membros das forças de segurança, mas também outros mortos durante a violência e os saques generalizados que se seguiram, perpetrados por indivíduos e gangues sem ligação com os manifestantes", detalhou o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, em comunicado, na sexta-feira quando apelou às autoridades de Madagáscar para "cessarem o recuros a uma força desnecessária" contra manifestantes em Madagáscar.
Também na quarta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou às autoridades do país para que cumprissem o direito internacional dos Direitos Humanos durante os protestos.
Apesar das riquezas naturais, Madagáscar continua a ser um dos países mais pobres do mundo e quase 75% da população vivia abaixo do limiar da pobreza em 2022, segundo o Banco Mundial.
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