"Apesar de hoje ser um dia de festa, estamos a dirigir esta cerimónia com uma lágrima no canto do olho, porque o último trimestre do ano passado e praticamente todo o primeiro semestre do presente ano, assistimos com bastante tristeza à destruição de infraestruturas e bens escolares", disse o chefe de Estado, ao intervir na saudação pelo dia do professor, que se assinala anualmente em 13 de outubro.
"Sob disfarce de manifestações violentas, ilegais e criminosas, foram vandalizadas 139 escolas ao nível do país, 178 salas de aulas, 47 blocos administrativos, duas salas de informática, 36 casas dos nossos professores e cinco edifícios dos Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia, nas províncias de Maputo, Niassa, Nampula, Zambézia, Tete, Inhambane e cidade de Maputo", apontou o chefe de Estado, na mesma intervenção, durante a saudação recebida do Sindicato Nacional dos Professores.
Chapo acrescentou que "destruir uma escola é destruir o futuro" da nação: "Isto é condenável, consubstancia crime e queremos orientar as autoridades competentes para investigarem e responsabilizar os infratores de forma exemplar. Nunca houve, não há e jamais haverá razões plausíveis que levam um indivíduo em sã consciência a vandalizar uma escola".
"A destruição de infraestruturas não resolve nenhum problema. Pelo contrário, só agrava ainda mais a pobreza que grassa o nosso povo e o nosso país", lamentou.
Acrescentou que "estes atos violentos afetaram o curso normal de vida das comunidades, conturbaram os exames escolares" no país, "atrasaram o início do ano letivo e colocaram em risco o desenvolvimento educacional e social" dos moçambicanos.
Segundo Chapo, nas províncias de Zambézia e Nampula há registo de "distritos inteiros que ficaram com a vila [sede] totalmente destruída", não só ao nível das estruturas da educação.
"Estamos a falar da residência do administrador, do comando distrital, da escola secundária ou primária no distrito, do centro de saúde, um hospital e todas as infraestruturas de uma vila sede que serviam o nosso povo", reconheceu.
Destruição que, disse, globalmente teve um "impacto económico expressivo, com prejuízos superiores a 32,2 mil milhões de meticais [435 milhões de euros], incluindo a destruição de estabelecimentos comerciais e a perda de empregos para cerca de 50 mil pessoas".
Enfatizou que "como povo e como nação", Moçambique não pode "normalizar a cultura de violência que pretende ser arraigada por um pequeno grupo de moçambicanos que não quer ver" o desenvolvimento do país.
"É preciso isolar esse tipo de indivíduos. É urgente responsabilizar estas pessoas. Todos temos de ter consciência de que os valores monetários que serão usados na reabilitação e reconstrução dessas escolas vandalizadas poderiam servir para construir mais escolas, comprarmos mais medicamentos para o nosso povo, para comprarmos novos autocarros, para transportar o nosso povo ou para construirmos mais vias de acesso", concluiu Chapo.
A contestação pós-eleitoral em Moçambique, de outubro a março último, provocou cerca de 400 mortos, em confrontos com a polícia, saques e destruição generalizada de empresas e infraestruturas públicas, como tribunais, escolas ou equipamentos de saúde, protestos convocados pelo então candidato presidencial Venâncio Mondlane.
Daniel Chapo, eleito Presidente da República, e Venâncio Mondlane reuniram-se em Maputo, pela primeira vez desde as eleições, em 23 de março, e no dia seguinte o ex-candidato presidencial apelou ao cessar da violência, não se tendo registado casos de agitação social associados à contestação eleitoral desde então.
Leia Também: Arcebispo da Beira defende que política deve procurar o bem comum