Na mesma entrevista, Lula da Silva afirmou que está convencido de que algumas das decisões do Presidente dos Estados Unidos "se basearam em informações incorretas que [Trump] recebeu sobre a situação política e o comércio internacional do Brasil" e acrescentou que à medida que continuem o diálogo, será possível "esclarecer essas questões".
"Tive duas excelentes reuniões com o Presidente Trump, primeiro em Nova Iorque e depois na semana passada por telefone. Foram conversas muito amigáveis entre dois Presidentes experientes de dois países que representam as maiores democracias do Ocidente. As nossas equipas estão a trabalhar para marcar uma reunião presencial", referiu Lula da Silva, que se encontra em Itália para participar num evento do Fórum Mundial da Alimentação da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).
Sobre a imposição de tarifas de 50% ao Brasil por parte dos Estados Unidos, Lula da Silva garantiu que o seu país "sempre esteve aberto ao diálogo e à negociação" e que sempre manteve uma postura muito clara. "A nossa democracia e soberania não são negociáveis", concluiu.
"O Brasil e os Estados Unidos têm 201 anos de sólidas relações diplomáticas e comerciais e, graças a este diálogo, poderemos fortalecê-las ainda mais, numa verdadeira relação de benefício mútuo que beneficie os povos de ambos os países", acrescentou Lula da Silva.
Em relação às declarações de Trump que classificaram o julgamento do ex-Presidente Jair Bolsonaro como uma "caça às bruxas", Lula da Silva defendeu que "ninguém pode desviar um tribunal de juízes do seu dever de fazer cumprir a lei".
Segundo o Presidente brasileiro, em declarações ao Corriere della Sera, existiu uma tentativa de golpe de Estado no Brasil e uma conspiração para o assassinarem e, também, para tirarem a vida ao vice-Presidente e a um magistrado do Supremo Tribunal.
"Agora, pela primeira vez em 525 anos de história, um ex-chefe de Estado foi condenado por uma conspiração golpista" afirmou Lula da Silva, acrescentando que "isso servirá de exemplo para que ninguém ouse atacar novamente o Estado de direito democrático no Brasil".
Na mesma entrevista, o Presidente antecipou que na sua intervenção na FAO deixará claro que "a fome e a pobreza não são resultado da escassez, mas fruto de uma decisão política".
Lula da Silva voltou, assim, a criticar os gastos com armamento num mundo em que milhões de pessoas passam fome diariamente.
"Em 2024, os gastos militares registaram o maior aumento desde o fim da Guerra Fria, atingindo 2,7 biliões de dólares (2,33 biliões de euros). Ao mesmo tempo, 673 milhões de pessoas passam fome. Esta situação continua a ser uma vergonha para a humanidade", referiu.
O Presidente brasileiro defendeu ainda, na mesma entrevista, uma reforma das Nações Unidas, considerando que "é inexplicável que países como o Brasil e outras grandes nações do Sul Global não ocupem cargos permanentes, já que é a pluralidade de vozes que funciona como fator de equilíbrio".
Lula da Silva considerou, ainda, sobre esse tema, que "a ONU deve ter força para agir em questões climáticas e prevenir conflitos como o genocídio em Gaza e a guerra na Ucrânia".
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