Uma reclusa em Inglaterra com cancro diz ter sido “deixada para morrer”, após ser transferida para uma prisão a dezenas de quilómetros do hospital onde está a receber tratamento. Até à data já faltou a 20 consultas.
Farah Damji acredita ter sido “escondida” na prisão HMP Eastwood Park por se ter tornado uma “irritação” para os diretores prisionais de HMP Bronzefield, onde estava anteriormente. Damji diz ter sido vocal e reivindicativa quanto aos cuidados médicos e até mesmo com os das restantes reclusas.
“Eles fizeram-me desaparecer a 13 de setembro. No 12, o inspetor de saúde de ‘Her Majesty’s Inspectorate of Prisons’ [organização independente que avalia o estado de prisioneiros] veio ver-me em Bronzefield”, conta em entrevista ao The Mirror.
“Eles disseram-me que tinham estado a ler sobre o meu cancro e eu disse-lhes que não estava a receber tratamento. Responderam-me que isso era horrível e que no dia a seguir vinham falar comigo mais a fundo.”
No dia a seguir, no entanto, os “guardas vieram-me bater à porta”, dizendo a Damji que ia ser transferida.
“Eles atiraram-me uns sacos de plástico e disseram-me para arrumar as minhas coisas. Tive 10 minutos”, recorda.
“Eu perguntei o porquê de estar a ser transferida, mas a ordem veio do governador. Ela, definitivamente, não queria que o inspetor de saúde regressasse para falar comigo”, acrescenta Damji que diz ter sido levada num táxi com dois agentes, em vez de numa carrinha da prisão. “Não sei quanto é que terá custado.”
A mãe de três diz que desde que mudou de estabelecimento prisional falou uma vez por telemóvel com o seu oncologista, sem nunca ter uma consulta presencial, e outras duas chamadas telefónicas foram canceladas pela prisão.
“Eu fui deixada para morrer, porque eles simplesmente não querem saber: longe da vista longe do coração. Não há qualquer tipo de política para prisioneiros com cancro”, relata. “Eles fazem as coisas de improviso, e por isso é que tantos prisioneiros estão a morrer”, denuncia a mulher de 57 anos, com um cancro da mama agressivo.
Damji garante que se não estivesse encarcerada já teria tido cirurgia e quimioterapia e que, neste momento, já estaria a recuperar - mas isso nunca aconteceu.
Na realidade, as hipóteses de sobrevivência da mulher, segundo o seu oncologista, situam-se agora perto dos 20%. Nesta fase da doença, Damji já não pode receber nem quimioterapia nem radioterapia para tentar combater o cancro.
“Está toda a gente a tentar passar a batata quente, mas esta é a minha vida”, lamenta.
“Eles fizeram isto de propósito para me isolarem. Eles são crueis, maus, estúpidos. Como é que podem dizer que o tratamento de cancro na prisão é igual ao tratamento fora? Não é. Não é.”
Em abril de 2024, apenas um mês depois de Damji ter sido enviada para a prisão para aguardar julgamento, a mulher teve de ser submetida a uma tripla mastectomia (ou seja, a remoção completa do peito).
Imediatamente após a operação, Damji foi algemada a agentes prisionais, para garantir que não fugia. Os três meses seguintes que passou no hospital em recuperação (dado que a ferida acabou por infetar) foram passados assim.
O médico Jake Hard, especializado em medicina nas prisões, escreveu um relatório na altura em que Damji foi operada, onde dava conta de alguns receios que tinha para com a paciente.
No relatório, Hard explicava que Damji precisaria de ser levada para tratamentos de radioterapia todos os dias para 15 sessões ao longo de três semanas, mas que, dado a falta de guardas prisionais, isso dificilmente aconteceria.
Um ano mais tarde, diz, taciturno, que todos se realizaram.
Uma porta-voz do Ministério da Justiça, em reação ao caso, disse apenas que “é sempre dada uma explicação aos reclusos sobre o porquê de serem transferidos de prisão”. Já a prisão de Bronzefield recusou comentar a situação particular de qualquer prisioneiro, dizendo apenas que todos os encarcerados podem reclamar, se assim o desejarem.
Damji foi condenada em julho deste ano a seis anos de prisão. Cinco anos e seis meses por perseguição, e outro meio ano por duas acusações de fraude.
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