Na sequência do acordo entre Israel e o Hamas, com base num plano apresentado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, as organizações humanitárias, assegura a ONU, têm a noção de que terão de abastecer ainda muita ajuda alimentar num território totalmente devastado, com algumas zonas em situação de fome.
As preocupações foram hoje dadas a conhecer por representantes do Programa Alimentar Mundial (PAM), da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) e do Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC), quando se preparam para uma expansão significativa das suas operações.
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) afirmou ter obtido 'luz verde' de Israel para 170 mil toneladas de ajuda e dispõe de um plano de resposta humanitária para os primeiros 60 dias de tréguas.
"Mas a situação é urgente no que diz respeito às necessidades mais básicas em Gaza: equipamentos médicos, medicamentos, alimentos, água, combustível e abrigos adequados para dois milhões de pessoas, que terão de enfrentar o inverno sem um teto sobre a cabeça", sublinhou Jacob Granger, da MSF.
Após dois anos de guerra, as infraestruturas, incluindo a rede essencial de distribuição de água, estão amplamente destruídas na Faixa de Gaza. A entrada de ajuda foi insuficiente durante meses, de acordo com a ONU, apesar do recente alívio do bloqueio humanitário imposto por Israel em março.
A ONU declarou oficialmente a fome em Gaza a 22 de agosto -- a primeira no Médio Oriente --, depois de especialistas alertarem que 500 mil pessoas se encontravam numa situação "catastrófica".
Com o regresso dos deslocados às respetivas casas, ou ao que delas resta, no enclave, o desafio torna-se ainda maior, pois o total de palestinianos a alimentar vai aumentar, mas também vai permitir certos "luxos", como comer carne.
O plano de Trump prevê que toda a ajuda seja "imediatamente enviada para a Faixa de Gaza" assim que o acordo entrar em vigor, "sem interferência de nenhuma das partes".
Fontes humanitárias admitiram à AFP um certo "otimismo" quanto à aplicação do plano, mas manifestaram preocupação com os detalhes operacionais, sobre os quais Israel ainda não forneceu informações oficiais.
"Estamos a pressionar diferentes embaixadas e doadores para que falem com as autoridades israelitas, porque precisamos, por exemplo, de camiões que possam fazer viagens de ida e volta às plataformas sem restrições do lado israelita", disse à AFP um responsável de uma ONG médica.
Mas também na Cisjordânia, e apesar do cessar-fogo, colonos israelitas continuam a atacar agricultores palestinianos na apanha da azeitona, a principal fonte de receitas, numa nova vaga de agressões coincidente com a época anual da colheita, informou a agência oficial palestiniana Wafa.
Cerca de 20 pessoas foram agredidas na região de Salfit enquanto recolhiam azeitonas, onde os colonos destruíram vários veículos e dispararam para o ar para os obrigar a abandonar as suas terras, segundo a agência.
Ataques semelhantes foram registados em Burqa (norte de Ramallah) e nas localidades de Jurish, Aqraba e Qablan (sul de Nablus), onde, segundo meios palestinianos, os colonos agiram sob a proteção do Exército israelita e impediram os agricultores de continuar a colheita.
Segundo o OCHA, durante a época da colheita da azeitona de 2025, mais de 60 comunidades na Cisjordânia continuam em alto risco de ataques por parte de colonos israelitas e de restrições de acesso às suas terras agrícolas.
Desde 07 de outubro de 2023, 999 palestinianos foram mortos na Cisjordânia por forças israelitas ou colonos. No mesmo período, mais de 10.000 palestinianos foram deslocados devido a demolições, ataques de colonos e restrições de acesso.
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