Em declarações à agência Lusa, o professor de Direito Penal na Universidade de Göttingen, nota que a guerra de Israel contra o movimento islamita Hamas na Faixa de Gaza levou a um "aumento das críticas à forma como Israel conduz as hostilidades".
"A maioria da Alemanha é contra a continuação da guerra e até mesmo o atual governo assume uma posição relativamente crítica, embora haja limites. Por exemplo, qualquer sanção ou boicote a Israel não é apoiado", acrescentou.
A Alemanha está particularmente sensível ao antissemitismo por razões históricas, uma vez que foi o regime nacional-socialista alemão que cometeu o genocídio contra os judeus nas décadas de 30 e 40 do século XX, em que foram exterminados milhões de seres humanos, a par da Segunda Guerra Mundial.
Por isso, críticas a Israel, especialmente vidas de movimentos pró-Palestina, são muitas vezes avaliadas com suspeita. Apesar do apoio a Israel, a Alemanha também defende uma solução de dois Estados.
"Podemos ver que o público alemão está a tornar-se mais consciente da Palestina. Tornou-se óbvio que não se pode escapar ao facto, como muitos tentaram antes, de que a Alemanha está a apoiar ativamente o massacre em Gaza", argumenta por exemplo o movimento pró-palestiniano "Let's Talk Palestine", que conta com mais de 17 mil seguidores na rede social instagram só na Alemanha.
Este auto-denominado "canal educativo online", que afirma querer "promover uma cultura de libertação", congratula-se pela maior manifestação que se verificou em Berlim nos últimos anos, em protesto contra a guerra em Gaza.
"Mais de 100 mil pessoas marcharam por Berlim exigindo o fim do genocídio em Gaza, um embargo de armas e maior pressão política da Alemanha para alcançar esse objetivo. Pesquisas recentes também mostram que a maioria, mais de 60% dos alemães, agora reconhece o genocídio de Israel e pede ao seu governo que ponha fim à cumplicidade da Alemanha e exerça mais pressão", defendem os ativistas da Let's Talk Palestine.
O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Johan Wadephul, sublinhou recentemente que os atuais esforços diplomáticos são "os mais promissores até agora" para uma solução política além do cessar-fogo.
Num debate na segunda-feira, o chanceler, Friedrich Merz, apontou a necessidade de uma solução de dois Estados, e afirmou que a Europa deve ter um papel ativo nas negociações de paz, especialmente para a libertação de reféns.
Os ativistas contra Israel não se convenceram e acreditam que "o espetro político alemão mantém-se firme ao lado de Israel", afirmando que o chanceler alemão, Friedrich Merz, quer "apaziguar os eleitores nas próximas eleições" e tem "receio de se ver implicado em futuros processos judiciais internacionais contra a cumplicidade de Estados em genocídios".
Israel iniciou em 16 de setembro uma grande ofensiva terrestre contra a cidade de Gaza, justificando-a para eliminar o último 'bastião' do Hamas, autor do ataque que vitimou cerca de 1.200 pessoas em Israel e em que foram raptadas mais de duas centenas, em 07 de outubro de 2023.
A retaliação militar levou à deslocação forçada para o sul da Faixa de Gaza de mais de um milhão de pessoas e resultou em dezenas de mortos diariamente naquela cidade, muitos deles civis, num conflito que já matou mais de 66 mil palestinianos, incluindo mulheres e crianças, de acordo com os números do Hamas.
Na quinta-feira, Israel e o Hamas concordaram com a primeira fase de um acordo de cessar-fogo que prevê a libertação de todos os reféns mantidos em cativeiro em Gaza em troca de prisioneiros palestinianos em Israel, com apoio diplomático de vários países.
Leia Também: Governo israelita aprova acordo de paz inicial com o Hamas