De acordo com o mais recente relatório do terreno daquela agência das Nações Unidas, consultado hoje pela Lusa, entre 22 de setembro e 06 de outubro, a escalada de ataques e a insegurança provocada por grupos armados" levou a "novos deslocamentos" - num total de 39.643, equivalente a 12.335 famílias - essencialmente nos distritos de Balama, Mocímboa da Praia, Montepuez e Chiúre, Cabo Delgado, mas também em Memba, província de Nampula.
A OIM contabilizou neste período um total de 26.405 deslocados de Mocímboa da Praia, devido à situação de "insegurança" nos bairros 30 de Junho e Filipe Nyusi, arredores de vila sede, palcos de pelo menos dois ataques de grupos insurgentes, com vários mortos, durante o mês de setembro.
Do distrito de Balama, a OIM contabilizou 5.585 deslocados, das localidades de Mavala e Mpake, que fugiram Ntete e Mieze, enquanto do distrito de Montepuez 3.980 pessoas foram deslocados, devido aos ataques e insegurança, de Mararange, Mirate e Nacololo.
No distrito de Chíure -- que já em finais de julho registou cerca de 57.000 deslocados devido aos vários ataques de grupos armados de então -- há mais 1.164 deslocados nos últimos dias, que fugiram de Mazeze e Murocue. Em menor escala, a OIM contabiliza 144 deslocados do distrito de Nangade, 121 de Macomia e 66 de Muidumbe.
Além destes distritos de Cabo Delgado, o relatório da OIM refere que os "recentes ataques" em Memba, Nampula, junto à província vizinha, "também forçaram 2.178 indivíduos a fugirem das aldeias de Chipene e Necoro", neste caso para o distrito de Erati.
Pelo menos 45 casas de duas aldeias de Nampula foram incendidas em 01 de outubro por alegados grupos terroristas que se deslocaram de Cabo Delgado, segundo o Governo.
"Há uma movimentação de terroristas de Cabo Delgado para a província de Nampula, tendo entrado no distrito de Memba onde cometeram algumas ações, tendo incendiado residências da população em dois povoados, um do posto administrativo de Lúrio e o outro no posto administrativo de Chipene", disse anteriormente o secretário de Estado na província de Nampula, Plácido Nerino Pereira, referindo que "não há registo de mortos".
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques terroristas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito da Mocímboa da Praia.
Oito anos após esse primeiro ataque, o Governo afirmou esta semana que continua a fazer esforços para garantir a segurança às populações e bens para que estas comunidades permaneçam nos seus lugares de origem em paz.
O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, considerou este mês como "atos bárbaros" e contra a "dignidade humana" os ataques terroristas no norte do país.
O Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) contabiliza 6.257 mortos ao fim de oito anos de ataques terroristas em Cabo Delgado, alertando para a instabilidade atual, com o recrudescimento da violência.
"A situação é bastante instável. Em setembro, o Estado Islâmico de Moçambique (ISM) estava ativo em 11 distritos de Cabo Delgado e também cruzou para Nampula no final do mês", disse à Lusa Peter Bofin, investigador da ACLED.
Segundo o investigador sénior da organização, que reúne e analisa dados sobre conflitos violentos e protestos em todo o mundo, desde outubro de 2017 foram registados em Cabo Delgado pelo menos "2.209 eventos de violência", com "6.257 mortes relatadas", sendo pelo menos 2.631 civis.
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