"Hoje apanhámos um [cidadão] em Margarita, (...) ele escreveu 'bem-vindos os barcos gringos'" disse Diosdado Cabello à televisão estatal venezuelana sem revelar a identificação do detido.
As tensões entre a Venezuela e os EUA aumentaram em agosto, depois de Donald Trump ter enviado navios de guerra para as Caraíbas, justificando com a luta contra os cartéis de droga da América Latina.
Segundo o portal de notícias Efecto Cocuyo, a detenção ocorreu no âmbito de uma "nova versão do tum tum natalício", em alusão a uma operação de detenções assim chamada devido ao som de batidas numa porta.
O ministro sublinhou que quem estiver "a pedir uma invasão" é "um miserável que não tem pátria", e reiterou que "não há bombas, apenas mata-chavistas".
"Se você não for atingido por uma bomba lançada por engano pelos gringos, então nós iremos atrás de si", advertiu.
Por outro lado, o responsável questionou a Conferência Episcopal Venezuela (CEV) por se ter pronunciado a favor da libertação dos presos políticos por ocasião da próxima canonização do médico José Gregório Hernández e da religiosa Carmen Rendiles.
"Porquê a CEV, esses abutres, não dizem nada sobre os ataques dos Estados Unidos aos barcos de pescadores?" questionou o ministro que acusou os bispos de usarem "a fé religiosa" e o "desejo de um povo" para "obter vantagens políticas para o seu grupo".
A Conferência Episcopal Venezuelana pediu terça-feira ao Governo do Presidente Nicolás Maduro que tenha um gesto de clemência libertando os presos políticos, devido à proximidade da canonização dos primeiros santos da Venezuela, o médico José Gregorio Hernandez e a madre Carmen Rendiles.
O Vaticano vai canonizar Carmen Rendiles (1903-1977) em Roma no domingo, 19 de outubro, conhecida pelo seu serviço aos necessitados nas paróquias e escolas, e o José Gregorio Hernandez (1864-1919), "o médico dos pobres", figura emblemática da Venezuela, cuja imagem está presente em muitos lares e locais públicos.
De acordo com o Foro Penal, uma organização não-governamental (ONG) de direitos humanos, a Venezuela tem 841 "presos políticos", incluindo líderes políticos, ativistas, defensores dos direitos humanos e estudantes.
Entre os presos políticos encontram-se 97 estrangeiros, dos quais cinco são luso-venezuelanos com dupla nacionalidade portuguesa e venezuelana.
Entre os luso-venezuelanos está o médico radiologista Manuel Enrique Ferreira, radicado em Barquisimeto, estado de Lara, que foi "chefe do comando de campanha" de Maria Corina Machado às eleições presidenciais de 28 de julho de 2024, que a oposição reivindica ter vencido.
Manuel Enrique Ferreira foi detido em 19 de julho nas proximidades do Centro Clínico Valentina Canabal, no estado de Lara (260 quilómetros a oeste de Caracas) e posteriormente levado para a capital.
Fontes da comunidade médica local explicaram à agência Lusa que o luso-venezuelano foi obrigado, "por homens armados sem identificação e sem apresentarem uma ordem judicial", a subir para uma viatura.
Segundo o FP, dos 841 presos políticos, 738 são homens e 103 mulheres, 668 civis e 173 militares. Entre eles estão quatro adolescentes com idades compreendidas entre os 14 e os 17 anos.
Desde 2014 o FP documentou 18.506 detenções por motivos políticos no país, tendo assistido gratuitamente a mais de 14.000 presos já libertados e a outras vítimas de violações dos seus direitos humanos.
"Além dos presos políticos, mais de 10.000 pessoas continuam submetidas arbitrariamente a medidas restritivas da sua liberdade", explica a ONG na rede social X.
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