"É um dia fundamental para os povos israelita e palestiniano, bem como para o Médio Oriente e todos os que apoiam a paz e a segurança na região", declarou Emmanuel Macron, após presidir a uma reunião na capital francesa com líderes europeus e regionais sobre o plano de 20 pontos do Presidente norte-americano, Donald Trump, detendo-se a explicar a importância de cada um deles.
O líder francês reconheceu que a paz "é frágil", embora tenha sublinhado que os líderes presentes em Paris estão empenhados em apoiar um acordo que descreveu como "ambicioso, assente na governação, segurança, ajuda humanitária e reconstrução" dos territórios palestinianos.
Macron afirmou que desarmar o Hamas "é um passo essencial para um cessar-fogo duradouro" e que o movimento deve cumprir as promessas de libertar os reféns sequestrados no ataque de 07 de outubro de 2023 em território israelita.
"É necessário resolver a governação de Gaza, excluindo completamente o Hamas e integrando plenamente a Autoridade Palestiniana", sustentou.
O chefe de Estado francês exortou também a comunidade internacional a contribuir para uma força de segurança de transição na Palestina, para ativar quando o plano de paz, anunciado na quarta-feira à noite, for concluído.
"Todos temos um papel a desempenhar nesta força de estabilização", declarou Macron, no início da reunião ministerial em Paris para preparar a reconstrução da Palestina, com a participação de Arábia Saudita, Jordânia, Espanha, Alemanha, Itália, Reino Unido, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Turquia, Egito e Comissão Europeia.
Macron assegurou que França está disposta a contribuir para esse contingente, sem esclarecer de que forma e indicando apenas que o objetivo é "treinar e equipar as forças de segurança palestinianas na Faixa de Gaza, em cooperação com a Jordânia e o Egito".
O chefe de Estado francês apelou para a criação de um quadro jurídico no contexto da ONU que permita a outros países juntarem-se ao envio de tal força.
Macron felicitou Trump por ter promovido esta "via ambiciosa" e sublinhou ser urgente que se autorize o regresso da ajuda humanitária à Faixa de Gaza, a distribuir pela ONU.
Essa ajuda deve entrar "por todos os postos de passagem", incluindo os que sejam estabelecidos ao longo da linha de retirada do Exército israelita, ainda por definir, insistiu.
Defendeu que a comunidade internacional não pode ficar-se pelo imediato, instando à criação dos alicerces para um Estado palestiniano viável, no qual o Hamas não pode desempenhar qualquer papel, "devido à enorme responsabilidade" na atual situação. Ao mesmo tempo, apelou para que seja dado à Autoridade Palestiniana um papel central.
"É urgente ajudar a Autoridade Palestiniana, confrontada com uma grave crise financeira, a estabilizar a capacidade para governar, para que possa assegurar os serviços essenciais e manter a segurança", afirmou.
Pediu também contributos para repor o sistema bancário palestiniano e destacou a Aliança de Voluntários, liderada por França, Espanha, Reino Unido e Arábia Saudita, para a "viabilidade financeira da Autoridade Palestiniana".
"O desbloqueamento imediato das receitas da Autoridade Palestiniana é uma prerrogativa para garantir a solidez do plano dos Estados Unidos, e é necessário que o mundo inteiro esteja disso convencido", afirmou.
Macron indicou que a estabilização da Palestina passa também pela viabilidade territorial e, nesse sentido, foi muito crítico em relação à proliferação de colonatos judaicos na Cisjordânia, que considerou "uma ameaça existencial para o Estado palestiniano".
A construção de colonatos, acrescentou, "põe em causa em causa os Acordos de Abraão anteriormente assinados e nada tem que ver com o Hamas e com o [ataque de] 07 de outubro de 2023" em território israelita, razão pela qual apelou para que "não se adicione mais uma zona de conflito" àquele que se está a tentar solucionar na região.
Em 2020, os Acordos de Abraão, patrocinados por Trump durante o primeiro mandato na Casa Branca (2017-2021), levaram à normalização das relações entre Israel e três países árabes: Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos.
"A unidade da Faixa de Gaza e da Cisjordânia pela Autoridade Palestiniana não deve permanecer um horizonte vago, mas deve ser definida uma transição com um prazo claro para esse objetivo", insistiu Emmanuel Macron.
Israel e Hamas anunciaram um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, primeira fase de um plano de paz proposto por Trump, após negociações indiretas mediadas pelo Egito, Qatar, Estados Unidos e Turquia.
Esta fase da trégua envolve a retirada parcial do Exército israelita para a denominada "linha amarela" demarcada pelos Estados Unidos, linha divisória entre Israel e Gaza, a libertação de 20 reféns em posse do Hamas e de 1.950 presos palestinianos.
O cessar-fogo visa pôr fim a dois anos de guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque de 07 de outubro de 2023 do Hamas a Israel, nos quais morreram cerca de 1.200 pessoas e 251 foram feitas reféns.
A retaliação de Israel já provocou mais de 67.000 mortos e de 170.000 feridos, na maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza (tutelado pelo Hamas), considerados credíveis pela ONU.
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