"Saúdo o anúncio, ontem [quarta-feira] à noite, de um acordo para garantir um cessar-fogo e a libertação de reféns em Gaza, com base na proposta apresentada pelo Presidente Donald J. Trump", disse António Guterres numa declaração à imprensa, em Nova Iorque.
"Todos esperámos demasiado por este momento. Agora precisamos de o fazer realmente valer a pena. Exorto todas as partes a cumprirem integralmente os termos do acordo - e a aproveitarem plenamente as oportunidades que este apresenta", afirmou.
Guterres defendeu a libertação de todos os reféns de forma digna, a garantia de um cessar-fogo e pediu que o "derramamento de sangue cesse, de uma vez por todas".
O líder da ONU garantiu ainda que a organização está pronta para prestar apoio total.
"Nós e os nossos parceiros estamos preparados para agir - agora. Temos a competência, as redes de distribuição e as relações comunitárias necessárias para agir", insistiu.
A ONU pode aumentar a oferta de alimentos, água, assistência médica e abrigo imediatamente ao povo de Gaza, assegurou Guterres, sublinhando que as equipas da ONU estão em prontidão.
Mas para transformar o cessar-fogo num progresso real, é necessário mais do que o silenciamento das armas: "Precisamos de um acesso pleno, seguro e sustentado para os trabalhadores humanitários; da remoção da burocracia e dos impedimentos; e da reconstrução das infraestruturas destruídas", observou.
O antigo primeiro-ministro português dirigiu-se também aos Estados-membros da ONU, para que garantam o financiamento devido das operações humanitárias para fazer face às imensas necessidades do povo palestiniano.
"Nunca devemos esquecer o insuportável custo humano deste conflito. (...) Para israelitas e palestinianos, este acordo oferece um vislumbre de alívio. Esse vislumbre deve tornar-se o amanhecer da paz, o início do fim desta guerra devastadora", afirmou.
Guterres, que terminou a declaração sem responder a perguntas dos jornalistas, pediu ainda que se aproveite esta "oportunidade memorável" para estabelecer um caminho político fiável para o futuro do Médio Oriente.
"Um caminho para o fim da ocupação, o reconhecimento do direito à autodeterminação do povo palestiniano e a obtenção de uma solução de dois Estados. Um caminho para uma paz justa e duradoura entre israelitas e palestinianos - e para uma paz mais ampla e segura no Médio Oriente", sublinhou.
António Guterres pediu que o acordo agora alcançado sirva para lembrar que as soluções para os conflitos não se encontram no campo de batalha, mas sim na mesa de negociações.
Nesse sentido, o líder das Nações Unidas elogiou os esforços diplomáticos dos Estados Unidos, do Qatar, do Egito e da Turquia na mediação "deste avanço tão necessário".
Israel e Hamas anunciaram na quarta-feira à noite um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, primeira fase de um plano de paz proposto pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, após negociações indiretas mediadas pelo Egito, Qatar, Estados Unidos e Turquia.
Esta fase da trégua envolve a retirada parcial do Exército israelita para a denominada "linha amarela" demarcada pelos Estados Unidos, linha divisória entre Israel e Gaza, a libertação de 20 reféns em posse do Hamas e de 1.950 presos palestinianos.
O cessar-fogo visa por fim a dois anos de guerra em Gaza, desencadeada pelos ataques a Israel, liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023, que causaram cerca de 1.200 mortos e 251 reféns.
A retaliação de Israel já provocou mais de 67 mil mortos e cerca de 170.000 feridos, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza (tutelado pelo Hamas), que a ONU considera credíveis.
[Notícia atualizada às 15h06]
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