Numa carta aberta, 60 intelectuais, artistas e defensores dos direitos humanos, entre os quais o historiador Maâti Mounjib, o jornalista Omar Radi e o ativista Fouad Abdelmoumni, sustentam que "a situação é grave".
"Dirigimo-nos a vós, porque detendes a autoridade máxima e, por conseguinte, a responsabilidade máxima (...) O povo marroquino está a sofrer e a sua juventude grita-o nas ruas", escreveram as figuras públicas marroquinas a Mohammed VI, que discursará na sexta-feira na abertura da sessão parlamentar de outono, para definir as prioridades do país, como faz todos os anos.
Desde 27 de setembro, o coletivo de jovens "GenZ 212", recentemente surgido nas redes sociais, convoca manifestações todas as noites para exigir reformas na saúde e na educação, o fim da corrupção e a demissão do Governo.
Os protestos começaram em meados de setembro, após a morte de oito mulheres grávidas admitidas no hospital público de Agadir, no sul do país, para serem submetidas a cesarianas.
Mais uma mulher morreu na terça-feira no mesmo estabelecimento de saúde depois de para ali ter sido transferida de emergência, na sequência de uma cesariana realizada num pequeno hospital da mesma região, anunciou hoje o Ministério da Saúde marroquino.
Um inquérito administrativo e clínico foi aberto para determinar as circunstâncias da morte.
Os signatários da carta apelaram igualmente para que seja iniciado "um processo de reforma constitucional" e para a libertação de todos os detidos do movimento GenZ 212, bem como de "todos os outros presos políticos e de consciência em Marrocos".
Nos primeiros dias da mobilização, então não-autorizada pelas autoridades, dezenas de pessoas foram detidas.
Em Rabat, 179 pessoas aguardam atualmente julgamento em liberdade, ao passo que outras seis ficaram em prisão preventiva, segundo a Associação Marroquina dos Direitos Humanos (AMDH).
Na semana passada, após manifestações do GenZ 212, registou-se um surto de violência no reino, nomeadamente na aldeia de Lqliaâ, perto de Agadir, onde três pessoas foram mortas por agentes policiais "em legítima defesa", segundo as autoridades.
De acordo com o testemunho de familiares, citados pela agência de notícias France-Presse (AFP), um dos baleados na cabeça era um estudante de cinema que tinha ido "documentar a violência".
Em relação com esses acontecimentos, um homem foi na terça-feira condenado a dez anos de prisão por "destruição premeditada de edifícios públicos, incêndio e violência contra as forças da ordem", indicou uma fonte próxima do caso, citada pela AFP.
"É necessário abordar as causas estruturais da ira", exortam os signatários da carta aberta, instando também a que se "combata a corrupção" e "o clientelismo".
As 60 figuras públicas marroquinas apelaram igualmente ao Estado para fazer da educação, da saúde e do emprego as suas prioridades, ao invés de investir em projetos considerados sumptuosos, como a construção de um enorme estádio para utilização durante a Taça das Nações Africanas, no final de 2025, e o Mundial de Futebol 2030.
Neste contexto, o movimento GenZ 212 anunciou uma "pausa temporária" nas manifestações, a fim de se organizar melhor para uma "mobilização mais eficaz" na quinta-feira à noite, véspera do discurso real.
O grupo precisou que não haverá manifestação na sexta-feira "por respeito" ao soberano, sublinhando que tal decisão "não significa um recuo", mas reflete "o sentido de responsabilidade dos membros".
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