"Não devemos fazer os franceses acreditar que é o presidente da República quem vota o orçamento", declarou Sébastien Lecornu, durante uma entrevista ao canal France 2, afirmando que "esta instituição presidencial deve ser protegida e preservada."
O chefe de Estado francês, pressionado de todos os lados incluindo por parte dos apoiantes, não prevê, para já, tomar a palavra, mas vai exprimir-se para os franceses "no momento oportuno", disse Lecornu.
"Numa democracia representativa, quando se dá um mandato (...) se começarmos, ao primeiro sinal de tempestade, a dizer "é preciso ir embora", se isso vale para o Presidente de hoje, pesará também sobre os futuros e amanhã sobre os autarcas, os deputados...", considerou.
Nesse sentido alertou que não se deve "subestimar a tensão internacional que [Macron] tem de gerir": "Já não somos suficientemente fortes para que a França seja autossuficiente".
Lecornu garantiu continuar como "ministro responsável pelas Forças Armadas" e, por essa razão, defendeu que Macron deve continuar no cargo já que "por definição, a voz de França no estrangeiro, felizmente, é a do Presidente da República".
Lecornu, cuja demissão surpresa na segunda-feira, 14 horas após o anúncio do seu governo, mergulhou a França numa crise sem precedentes, recebeu de Macron a missão de encontrar uma solução para evitar uma nova dissolução do Parlamento.
"Sinto que há um caminho possível" para a situação que "já é suficientemente difícil", afastando a hipótese de dissolução da Assembleia Nacional, afirmou o chefe do Governo em funções, defendendo que o próximo Governo deverá estar "completamente desligado das ambições presidenciais para 2027".
O primeiro-ministro demissionário francês afirmou hoje que o Presidente Emmanuel Macron pode nomear um novo chefe de Governo "nas próximas 48 horas", após dois dias de intensas negociações para resolver o impasse político no país.
Sébastien Lecornu anunciou ainda que um projeto de orçamento será apresentado na segunda-feira, e que embora não seja "perfeito, haverá muito para debater" na Assembleia Nacional.
"Todas as forças políticas, exceto a França Insubmissa [LFI, esquerda radical] e a União Nacional [RN, extrema-direita], disseram-me que não se pode correr o risco de não ter um orçamento aprovado até 31 de dezembro, porque as consequências para a França e os franceses seriam dramáticas", afirmou Sébastien Lecornu.
Os líderes da LFI Jean-Luc Mélenchon e Mathilde Panot reagiram a estas declarações exigindo a demissão de Macron.
"Sébastien Lecornu disse que não se pode decidir nenhum assunto antes das eleições presidenciais de 2027. Solução? Façamos já a eleição presidencial. O país não tem tempo a perder", escreveu na rede social X.
Mathilde Panot, líder dos deputados da LFI, acrescentando que "esta comédia de repetição já durou o suficiente", com o primeiro-ministro demissionário a dar "mais 48 horas, ou seja, duplicou o prazo" para apresentar uma solução para o país.
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