"O outro desafio que nós temos elencado ao nível do nosso distrito é a componente informantes aos terroristas. Temos as nossas comunidades que, estando lá, tem sempre algum informante que serve de elo de ligação com terroristas. Urge a necessidade de, como governo, envolvendo a todas as comunidades, no sentido de que esses informantes entendam que estão a estragar o tecido social da nossa economia, assim como do nosso distrito de Ancuabe", disse Belmiro Casimiro.
Falando durante o arranque, hoje, da formação de membros do Serviço Nacional de Investigação Criminal (Sernic) e das Forças de Defesa e Segurança (FDS) em matéria de criminalidade e crime transnacional, o administrador de Ancuabe salientou que o conflito armado tem estado a retardar o desenvolvimento do distrito, "ciclicamente afetado" pela insurgência.
"O nosso desenvolvimento está a ser impedido por conta do terrorismo, nós temos sido ciclicamente afetados pelas consequências deste mal que é um desafio muito grande não só para o nosso distrito, mas também para o nosso Governo de Moçambique no geral", referiu ainda o responsável.
Já o diretor nacional de Técnica Criminalística no Sernic, Jorge Cório, afirmou haver "alguma deficiência na recolha de prova" para análises, reiterando a necessidade de formação das forças moçambicanas na área.
"Como deve saber, quando acontece um crime, um ataque a uma aldeia, a uma cidade, sempre lá tem vestígios, tem provas que são úteis para investigação", disse, na ocasião, Jorge Cório.
A formação dos membros do Sernic e das FDS em matéria de criminalidade e crime transnacional com enfoque para o terrorismo termina na quarta-feira.
A província de Cabo Delgado, no norte do país, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas desde então.
No final de julho, ataques destes grupos já tinham provocado mais de 57 mil deslocados no distrito de Chiúre, sul da província de Cabo Delgado, segundo dados oficiais anteriores.
Entretanto, a província regista um recrudescimento de ataques de grupos rebeldes, tendo sido alvos os distritos de Chiúre, Muidumbe, Quissanga, Ancuabe e Meluco. Mais recentemente também Mocímboa da Praia - onde aconteceu o primeiro grande ataque terrorista, em 05 de outubro de 2017 -, com registo de vários mortos, levando neste caso a organização Médicos Sem Fronteiras a suspender as atividades locais, por questões de segurança.
De acordo com dados das Nações Unidas, entre 19 e 26 de setembro de 2025, a escalada de ataques e a insegurança provocada por grupos armados em Cabo Delgado provocou igualmente cerca de 22 mil deslocados nos distritos de Balama, Mocímboa da Praia e Nangade.
O Presidente moçambicano, Daniel Chapo, disse em 25 de setembro que a segurança em Cabo Delgado melhorou, mas que a ameaça terrorista permanece, pedindo às Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) "estratégias para incinerar" esses grupos insurgentes.
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques, no norte de Moçambique, a maioria reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo dados divulgados.
De acordo com dados do Governo, dois milhões de moçambicanos estão em situação de insegurança alimentar, dos quais 148 mil necessitam de "assistência humanitária urgente".
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