A formação deste parlamento deverá consolidar o poder de Ahmad al-Shareh, que liderou uma coligação islamista que derrubou o Presidente Bashar al-Assad em dezembro passado, após mais de treze anos de guerra civil.
Os resultados preliminares deverão ser anunciados hoje à noite, com a comissão eleitoral a declarar que "a votação foi encerrada e a contagem estava em curso". A lista final de nomes será anunciada na segunda-feira.
Duas províncias no nordeste da Síria, controladas por curdos, bem como Sweida, de maioria drusa, palco de violência recente, estão excluídas do processo. Trinta e dois lugares de um total de 210 permanecerão vagos após esta eleição, na qual as mulheres estão sub-representadas.
O futuro parlamento, cujo mandato é renovável por dois anos e meio, terá 140 membros nomeados pelos comités locais formados pela comissão eleitoral nomeada por Shareh e 70 nomeados pelo Presidente interino.
De acordo com a comissão eleitoral, 1.578 candidatos, dos quais apenas 14% são mulheres, serão nomeados por quase 6.000 pessoas.
O processo de nomeação tem sido criticado por organizações da sociedade civil, que denunciam uma excessiva concentração de poder nas mãos do Presidente e a falta de representação das comunidades étnicas e religiosas do país.
Hoje, durante um discurso aos membros da comissão eleitoral em Damasco, Ahmad al-Shareh enfatizou a natureza "transitória" do processo, "ligada às circunstâncias que a Síria atravessa".
Em setembro declarou que era, atualmente, impossível realizar eleições diretas, argumentando, em privado, que a presença de um grande número de sírios no estrangeiro sem documentos adequados complicava a situação.
Centenas de milhares de sírios fugiram da guerra desencadeada em 2011 pela repressão dos protestos pró-democracia, que fizeram mais de meio milhão de mortos.
As novas autoridades dissolveram a Assembleia Popular, que tinha sido o mero registo do poder sob o clã Assad durante décadas.
O novo parlamento exercerá funções legislativas até à adoção de uma Constituição permanente e de novas eleições, de acordo com a Declaração Constitucional proclamada em março.
"Não são eleições, são uma nomeação", disse à France Presse Bassam al-Ahmad, diretor executivo da Organização Não-Governamental (ONG) "Sírios pela Verdade e Justiça", com sede em Paris.
Num comunicado em meados de setembro, 14 ONG manifestaram a opinião de que o processo permitiu ao Presidente "formar uma maioria parlamentar baseada em pessoas cuja lealdade garante", o que poderá "minar o princípio do pluralismo".
"Apoio o governo e estou pronto para o defender, mas estas não são eleições a sério", disse Louay al-Arfi, um funcionário público reformado. "É uma necessidade da fase de transição, mas queremos eleições diretas", acrescentou o homem de 77 anos, sentado num café no centro de Damasco.
"É normal que haja críticas; o Governo é novo no poder e a liberdade é nova para nós", reconheceu uma candidata, Mayssa Halwani, de 48 anos.
Os candidatos não devem ser "apoiantes do antigo regime, nem promover a secessão ou a partilha" do país, de acordo com as regras eleitorais.
"As eleições poderiam ter representado uma nova mudança política após a queda do antigo regime, mas a marginalização de muitas regiões mostra que as regras de participação política não estão a ser respeitadas", lamenta Nishan Ismail, um professor de 40 anos do nordeste do país, controlado pelos curdos.
Numa mensagem publicada na rede social X, hoje à noite, Badran Ciya Kurd, chefe da Administração Autónoma Curda no nordeste, disse que o processo eleitoral "visa legitimar uma autoridade provisória que não representa toda a população, sob o risco de acentuar as divisões e a fragmentação do país".
Este processo "não respeita as regras básicas da democracia", disse Bourhan Azzam, de 48 anos, ativista da cidade de Sweida, no sul do país, controlada pelas fações drusas e também excluída.
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