"Já que os governos olham para o lado, a sociedade civil tem de sair à rua", disse à Lusa Javier Díaz Moro, 74 anos, escritor e uma das dezenas de milhares e pessoas que hoje, ao final da tarde, encheram a rotunda de Atocha, o Passeio do Prado e parte da Gran Via de Madrid numa manifestação em defesa da Palestina, pelo cessar-fogo na Faixa de Gaza e em solidariedade com os perto de 500 elementos da flotilha Global Sumud detidos por Israel.
Fazendo eco das reivindicações inscritas na convocatória do protesto - que se repetiu hoje em várias cidades espanholas -, Javier Diaz Moro pediu aos governos de todo o mundo, e em especial aos europeus, o fim das relações diplomáticas com Israel e o "embargo real" de armas a Telavive.
O apelo de Javier Diaz Moro e da generalidade dos manifestantes inclui o Governo de Espanha, que tem sido dos mais contundentes nas críticas a Israel por causa da ofensiva militar no território palestiniano da Faixa de Gaza, que já aprovou um embargo de armas e que reconheceu o Estado da Palestina em maio de 2024.
São "apenas gestos", insuficientes e fruto da pressão da sociedade civil espanhola, que se tem mobilizado de forma muito expressiva nas ruas em defesa da Palestina, sublinhou Javier Diaz Moro, que lamentou que ainda esta semana o Governo de Espanha tenha saudado "o plano de paz de Donald assassino Trump, que é um ultimato, não um plano de paz" para Gaza.
"Que todas as guerras sejam de almofadas", exigiu por sua vez Samuel, um menino de cinco anos, num cartaz de papelão pendurado ao pescoço, enquanto via passar a manifestação perto da Praça de Cibeles, de mão dada com a mãe.
"Temos de sair à rua para dizer que o que está a acontecer não está bem. E não é só com o povo palestiniano", disse à Lusa a mãe de Samuel, Iziar Viana, 43 anos.
Para Iziar, perante o que está a acontecer em Gaza, a tendência é pensar que "não se pode fazer nada", mas "quando as pessoas tomam as ruas mostram que sim, que se pode fazer alguma coisa".
A manifestação de hoje em Madrid percorreu ruas do centro da cidade, entre a rotunda de Atocha e a praça Callao, num percurso de mais de dois quilómetros em que os últimos manifestantes iniciaram a marcha mais de duas horas após a saída dos primeiros.
Segundo as autoridades locais, a manifestação juntou perto de 100 mil pessoas.
"Cessar-fogo no genocídio na Palestina. Viva a luta do povo palestiniano", lia-se na faixa que encabeçava a manifestação.
A marcha de protesto, com milhares de bandeiras da Palestina, foi acompanhada por gritos de: "Não é uma guerra, é um genocídio", "boicote a Israel" ou "liberdade Palestina".
Além de Madrid houve hoje manifestações em solidariedade com a Palestina e para denunciar o genocídio em Gaza em várias cidades espanholas, que mobilizaram dezenas de milhares e pessoas.
Só em Barcelona, 70 mil pessoas saíram às ruas e em Valência foram 10 mil, a que se somaram milhares de outras em cidades como Sevilha, Granada ou Valladolid, para além de Madrid.
Em Pamplona houve também uma manifestação com 10 mil pessoas hoje, segundo as autoridades, que deram conta de protestos em perto de 70 cidades espanholas este sábado.
As manifestações são convocadas também em solidariedade com os membros da flotilha Global Sumud, que saíram de Barcelona em 31 de agosto com destino a Gaza e foram detidos por Israel na quarta e na quinta-feira.
A flotilha, que integrava 65 espanhóis (a nacionalidade mais representada), pretendia romper o bloqueio do território palestiniano da Faixa de Gaza por parte de Israel e levar ajuda humanitária à população.
Israel mantém uma ofensiva em Gaza desde outubro de 2023 que já matou mais de 66.100 palestinianos, incluindo 151 crianças vítimas de fome e desnutrição, segundo as autoridades controladas pelo Hamas.
A ofensiva seguiu-se ao ataque do Hamas em Israel de há dois anos, que causou 1.200 mortos e 251 reféns, de acordo com as autoridades.
Pode ver imagens da manifestação na galeria acima.
[Notícia atualizada às 21h40]
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