Friedrich Merz e Emmanuel Macron falaram em discursos separados, num evento para comemoração do 35.º aniversário da reunificação alemã.
"Por vezes, ficamos surpreendidos por termos perdido a alegria de 1989 e 1990 e questionamo-nos se foram cometidos erros que poderiam ter sido evitados. Muitos de nós acreditamos que foi um processo bem-sucedido. Hoje, 35 anos após a reunificação, devemos olhar para o futuro. Peço-vos que reúnam forças para uma nova unidade no nosso país", declarou Merz, no discurso que proferiu.
O chefe do Governo alemão sublinhou que essa nova unidade precisa de existir dentro da Europa para que esta consiga enfrentar, enquanto continente liberal e democrático, os desafios impostos pelas autocracias e pela situação económica internacional.
"Na Europa, somos fortes juntos ou fracos como Estados individuais. Na Alemanha, sabemos que quando a Europa se sai bem, a Alemanha se sai bem. Queremos ser para a Europa a energia positiva que sempre fomos, desde Konrad Adenauer. A Alemanha pensa e age de forma europeia", sustentou Merz.
Por seu lado, o Presidente francês, como convidado especial para a cerimónia realizada em Saarbrücken, no sudoeste da Alemanha, salientou a dimensão europeia do significado da reunificação da Alemanha e apontou também os desafios do presente.
"Para nós, franceses e europeus, o 03 de outubro é também um motivo de celebração. É o Wendepunkt (ponto de viragem) da história. Embora as novas gerações possam não ter vivido a queda do Muro de Berlim ou a reunificação, sentem a dimensão e o significado destes acontecimentos", afirmou, num discurso parcialmente proferido em alemão.
"Há 35 anos, não ocorreu apenas a reunificação da Alemanha, mas a reunificação da Europa", acrescentou, referindo-se ao fim da Guerra Fria.
Merz aproveitou também o seu discurso para defender a necessidade de reformas, tanto na Europa como na Alemanha, para fazer face aos novos desafios.
"O nosso país está agora numa fase decisiva. A força daquilo a que chamamos Ocidente está claramente em queda. Novas alianças de autocracias estão a formar-se contra nós. A nossa liberdade está sob ataque, e não apenas a partir de fora", afirmou.
Além disso, acrescentou, as regras da economia global estão a mudar, com novas restrições alfandegárias e o ressurgimento de egoísmos nacionais, bem como várias revoluções tecnológicas que tornam necessário impulsionar a inovação.
Perante isto, segundo Merz, a Alemanha deve consolidar-se como país democrático e liberal, Estado de Direito e como nação social e solidária.
"O objetivo das reformas que temos de fazer é manter o estado de bem-estar social para aqueles que dele necessitam", afirmou.
Neste contexto, defendeu uma cultura de confiança com menos regulamentos, tanto na Alemanha como na Europa.
A questão da segurança também desempenhou um papel importante em ambos os discursos.
"A Europa está perante uma nova era e num momento em que não podemos recuar para o nacionalismo. Se a Europa está a armar-se agora, é para defender a paz", declarou Merz.
Perante "um eixo de Estados autocráticos que está a desafiar a ordem liberal em todo o mundo" e "a desafiar abertamente as democracias ocidentais, precisamos de reaprender a defender-nos, dissuadindo os nossos adversários de novas agressões", sustentou, sem referir a Rússia.
Macron, por sua vez, afirmou que agora a Europa tem de responder ao apelo para enfrentar uma nova era, como fez há 35 anos: "Devemos mostrar a mesma determinação daqueles que alcançaram a unidade alemã há 35 anos, após a queda do Muro de Berlim".
Este enfrentar de novos desafios tem tanto uma vertente externa, segundo os dois líderes políticos, expressa no apoio à Ucrânia, que é uma forma de defender a unidade da Europa, como uma vertente interna, que passa pela defesa da democracia e do discurso democrático.
Forças motrizes da construção europeia, França e Alemanha assistem ao crescimento gradual dos partidos políticos radicais, em particular de extrema-direita, à custa de partidos mais moderados, habituados a governar.
Segundo o chefe de Estado francês, permitiu-se que as redes sociais propriedade de Governos chineses e norte-americanos, cujo interesse não é a sobrevivência da democracia europeia, assumissem demasiado poder.
"Permitiram o surgimento de um espaço público democrático onde as pessoas usam máscaras, são anónimas, onde a regra é que é preciso insultar os outros se se quiser ser popular", condenou.
Macron apelou, assim, aos europeus para "se mobilizarem" para "reconstruir uma democracia do século XXI", caso contrário, na sua opinião, a Europa tornar-se-á, "em 10 anos", "um continente, como muitos outros, de teóricos da conspiração, extremistas, som e fúria".
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