A vice-presidente da Real Academia Sueca de Ciências, Ylva Engstrom, alertou que as mudanças implementadas pela administração de Donald Trump podem colocar em causa a "liberdade académica" e provocar "efeitos devastadores" no sistema democrático.
"Acho que, tanto a curto como a longo prazo, [as medidas] podem ter efeitos devastadores. […] A liberdade académica é um dos pilares do sistema democrático", disse a responsável do organismo que atribui os prémios Nobel de química, física e economia, em declarações à agência Reuters.
É que, recorde-se, o presidente dos Estados Unidos propôs cortar o orçamento do Instituto Nacional de Saúde, o maior financiador mundial de investigação biomédica, e quer desmantelar o Departamento de Educação, por forma a reduzir o papel do governo federal na educação. Além disso, Trump apontou que dará prioridade à concessão de subsídios a programas focados na "educação patriótica" e exigiu que as faculdades limitassem as matrículas internacionais para licenciaturas a 15%.
"Para a investigação, haverá uma grande queda no que os cientistas norte-americanos podem fazer e no que lhes é permitido fazer, no que podem publicar, no que podem obter financiamento. Portanto, terá grandes efeitos", disse Engstrom.
A Casa Branca, por seu turno, salientou que os Estados Unidos são o maior financiador de investigação científica do mundo e frisou que "os cortes específicos no desperdício, fraude e abuso, tanto no financiamento de bolsas de investigação, como nos programas de vistos, reforçarão o domínio inovador e científico dos norte-americanos".
Contudo, Trump ameaçou reter fundos federais devido aos protestos pró-Gaza em várias universidades norte-americanas, tendo também colocado em causa as políticas de diversidade e de inclusão das instituições de ensino.
"Estas políticas são inequivocamente muito negativas, especialmente para a criação de emprego. […] Todas as atividades da engenharia e ciências serão afetadas. As ciências da vida são um setor particularmente dinâmico neste momento e o Instituto Nacional de Saúde está, por alguma razão, a ser alvo de cortes massivos", considerou o economista Simon Johnson, que ganhou o Prémio Nobel de Economia em 2024.
A própria presidente da Fundação Nobel, Hanna Stjarne, assegurou que o organismo está "atento" aos desafios da liberdade académica, de modo a proteger "o conhecimento".
"Protegemos a liberdade, a oportunidade para os investigadores trabalharem livremente, para os escritores poderem escrever exatamente como querem e para que iniciativas de paz sejam tomadas em todos os tipos de conflitos que existem em todo o mundo", disse.
"Vão dá-lo a um tipo que não fez nada": Trump quer Nobel da Paz
Saliente-se ainda que Trump tem repetidamente apelado a que seja galardoado com o prémio Nobel da Paz. No final de setembro, considerou, inclusive, que será um insulto para os Estados Unidos se não receber a distinção, uma vez que, na sua ótica, colocou um ponto final a vários conflitos no mundo enquanto chefe de Estado.
"Vão dá-lo a um tipo que não fez nada", disse, perante centenas de oficiais norte-americanos de alta patente.
Os prémios Nobel, que são encarados como os prémios científicos mais prestigiados do mundo, serão anunciados a partir da próxima semana. A entrega dos galardões inicia-se na segunda-feira, com a distinção de medicina, e termina com a revelação dos vencedores em economia, uma semana depois.
Criados pelo químico e inventor Alfred Nobel, os prémios têm um valor de 11 milhões de coroas suecas (cerca de 1.000.301,50 euros).
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