"A ideia de uma zona de segurança no sul é uma farsa", afirmou o porta-voz da UNICEF, James Elder, numa intervenção desde Gaza perante jornalistas em Genebra, na Suíça.
No sul da Faixa de Gaza, "as bombas são lançadas com uma previsibilidade assustadora", disse o porta-voz da UNICEF, a sigla em inglês por que é conhecido o Fundo das Nações Unidas para a Infância.
"As escolas que foram designadas como abrigos temporários são regularmente reduzidas a escombros, e as tendas (...) são alvo frequente de ataques aéreos", descreveu Elder, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).
Desde o início da ofensiva aérea sobre a cidade de Gaza, em agosto, antes da incursão terrestre, o exército israelita tem pedido repetidamente aos palestinianos que se desloquem para o sul do território.
O exército chegou mesmo a incentivar os palestinianos a instalarem-se numa "zona humanitária" em Al-Mawasi, junto à costa, onde disse que disporiam de cuidados médicos, ajuda humanitária e infraestruturas adequadas.
Israel declarou Al-Mawasi como "zona de segurança", mas tem realizado ataques repetidos no local, alegando visar o Hamas, segundo o porta-voz da UNICEF.
James Elder insistiu que "emitir uma ordem geral de saída de civis não significa que aqueles que permanecem [no local evacuado] percam a sua proteção civil".
As "supostas zonas de segurança são também lugares de morte", afirmou.
Atualmente, referiu, Al-Mawasi "é um dos lugares mais densamente povoados do planeta. A zona está sobrelotada de forma inadmissível e foi privada dos meios mais básicos de sobrevivência".
Elder recordou que a ONU já tinha começado a questionar no final de 2023, pouco depois do início da guerra, "o conceito de zona de segurança declarado unilateralmente" por Israel.
"É responsabilidade da potência ocupante, Israel, assegurar que uma zona de segurança disponha de todos os elementos essenciais à sobrevivência, ou seja, comida, abrigos e instalações sanitárias", afirmou.
O porta-voz da UNICEF disse que "nenhum destes elementos se encontra disponível em quantidade suficiente".
Referiu que, inicialmente, a ONU "pelo menos assumia" que os locais designados por Israel como seguros "não seriam alvo de bombardeamentos".
Nos últimos 18 meses, as zonas de segurança designadas foram atingidas "dezenas de vezes" pelo exército israelita.
"Pessoas a viver em tendas sofreram ataques aéreos", acrescentou Elder.
Israel enfrenta acusações de genocídio e de usar a fome como arma de guerra, que nega, na ofensiva militar que iniciou há cerca de dois anos na Faixa de Gaza.
A guerra em curso foi desencadeada por um ataque do grupo extremista Hamas em Israel em 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e 251 reféns, segundo as autoridades israelitas.
A retaliação israelita provocou até agora mais de 66.200 mortos e quase 170.000 feridos na Faixa de Gaza, de acordo com dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados fiáveis pela ONU.
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