"O Estado não assumiu plenamente as suas responsabilidades", afirmou o Presidente Lee Jae-myung num comunicado, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).
"Em nome da República da Coreia, apresento as minhas sinceras desculpas e palavras de conforto às pessoas adotadas no estrangeiro, às famílias, bem como às famílias biológicas que suportaram sofrimentos", declarou.
Lee pediu às autoridades que criassem sistemas para proteger os direitos humanos dos adotados e apoiar os esforços para encontrar os pais biológicos.
O pedido de desculpas segue-se a decisões judiciais e investigações da Comissão da Verdade e Reconciliação que revelaram casos em que foram cometidas "violações graves dos direitos humanos" nos processos de adoção, disse Lee.
A Coreia do Sul, quarta economia da Ásia e potência cultural mundial, enviou para o estrangeiro mais de 140 mil crianças para adoção entre 1955 e 1999.
Há anos que os sul-coreanos adotados por pais estrangeiros defendem o direito à informação, mas a busca por informações é notoriamente difícil na Coreia do Sul, segundo a AFP.
Muitos deles afirmam que a mãe biológica foi forçada a abandoná-los quando eram crianças e que os processos foram adulterados para os tornar legalmente adotáveis.
O Estado acabou por criar uma instância independente, a Comissão da Verdade e Reconciliação, após queixas de 367 adotados na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália, de acordo com a agência noticiosa norte-americana The Associated Press (AP).
A comissão divulgou em março uma conclusão histórica ao reconhecer a culpa do Governo por ter facilitado as adoções através de práticas fraudulentas, nomeadamente a falsificação de documentos e a troca de identidades.
No relatório, publicado após mais de dois anos de investigação, a comissão assinalou "numerosos casos em que os procedimentos legais de consentimento" dos pais biológicos sul-coreanos "não foram respeitados".
Só em 1984, segundo a comissão, 99% dos pedidos de adoção internacional foram concedidos no mesmo dia ou no dia seguinte.
A comissão criticou também as autoridades por não terem regulamentado os custos da adoção, a fim de impedir que a adoção internacional se tornasse uma indústria motivada pelo lucro.
A adoção internacional começou após a Guerra da Coreia (1950-1953), com o objetivo de afastar crianças mestiças nascidas de mães coreanas e de soldados norte-americanos, num país que privilegia a homogeneidade étnica.
A adoção internacional teve um 'boom' nas décadas de 1970 e 1980, gerando milhões de dólares para as agências de adoção locais, enquanto o país saía da pobreza do pós-guerra e seguia um rápido desenvolvimento económico.
Mais de uma centena de crianças por ano, em média, ainda foram adotadas no estrangeiro na década de 2020, afirmou o Presidente sul-coreano.
Estas adoções recentes não foram objeto da investigação oficial.
A principal fonte de adoções encontra-se agora nas mulheres solteiras, muitas das quais são obrigadas a abandonar os bebés à nascença numa sociedade sul-coreana profundamente conservadora e patriarcal, segundo a AFP.
Após anos de atraso, a Coreia do Sul ratificou em julho a Convenção de Haia sobre Adoção, um tratado internacional destinado a salvaguardar as adoções internacionais.
Seul comprometeu-se então a reestruturar o sistema público de adoção e a abandonar as agências de adoção privadas, pouco controladas pelo Estado.
O tratado entrou em vigor na Coreia do Sul na quarta-feira, acrescentou a AP.
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