De acordo com um relatório do terreno daquela agência das Nações Unidas, "entre 19 e 26 de setembro de 2025, a escalada de ataques e a insegurança provocada por grupos armados" em Cabo Delgado "desencadearam novos deslocamentos" nos distritos de Balama, Mocímboa da Praia e Nangade.
Em Balama, 8.268 pessoas da povoação de Monapo fugiram para as localidades de Ntete e Mieze, enquanto em Nangade um total de 277 procuraram refúgio em povoações vizinhas, incluindo em Pemba, capital da província de Cabo Delgado.
O relatório da OIM acrescenta que no mesmo período, 13.274 pessoas de Mocímboa da Praia fugiram, nomeadamente após novos ataques aos bairros 30 de Junho e Filipe Nyusi, junto à vila, que provocaram vários mortos.
Alimentos, abrigo e serviços de proteção foram relatadas como as necessidades mais urgentes", lê-se no relatório, que totaliza numa semana 21.819 deslocados, equivalente a 6.012 famílias, sendo mais de metade crianças (11.380) e incluindo ainda 311 grávidas e 657 idosos.
O Presidente moçambicano, Daniel Chapo, disse em 25 de setembro que a segurança em Cabo Delgado melhorou, mas que a ameaça terrorista permanece, pedindo às Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) "estratégias para incinerar" esses grupos insurgentes.
"A realidade manda dizer que esse esforço não tem sido suficiente. Por isso, ao comemorarmos o 61.º aniversário das FADM, queremos orientar os três pilares das Forças de Defesa e Segurança a encontrarem estratégias para incinerarmos o terrorismo no nosso país", afirmou.
Daniel Chapo reconheceu a "complexidade" da missão de combate ao terrorismo, que acontece desde 2017, mas sublinhou o nível de preparação alcançado nos últimos anos pelas Forças Armadas.
"Sabemos que ao longo destes anos adquiriram experiência, criaram estruturas e formaram muitos quadros nas academias, capazes de enfrentar esses desafios com mestria. Portanto, recomendamos enviar os melhores quadros para o terreno do Teatro Operacional Norte. O terrorismo não se vence deixando os melhores militares, os melhores quadros, os familiares ou os filhos dos chefes nos gabinetes", apontou.
"Todo o cidadão que faz parte das Forças de Defesa e Segurança deve ir ao Teatro Operacional Norte. Isto é inegociável", avisou.
Em Cabo Delgado, província rica em gás, Chapo disse que a ameaça "obriga a constante inovação tática, operacional e estratégica, à cooperação internacional e ao aperfeiçoamento" das capacidades.
"Não restam dúvidas que hoje a segurança em Cabo Delgado melhorou, quando comparada a três ou quatro anos, pois há condições básicas para a circulação de pessoas e bens com relativa segurança, apesar dos ataques esporádicos dos terroristas", disse.
Chapo acrescentou que com esta "pressão operacional" das FADM, "os terroristas têm estado a alterar o seu 'modus operandi'", desde logo "passando a realizar ações que incluem implantação de dispositivos explosivos, improvisados, em algumas rodovias, para contenção do avanço operacional".
A província de Cabo Delgado regista um recrudescimento de ataques de grupos rebeldes desde julho - com 57 mil deslocados só na zona sul - tendo sido alvos os distritos de Chiúre, Muidumbe, Quissanga, Ancuabe, Meluco e mais recentemente Mocímboa da Praia, com registo de vários mortos.
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques, no norte de Moçambique, a maioria reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo um estudo divulgado pelo Centro de Estudos Estratégicos de África, uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano.
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