A organização da flotilha, composta por mais de 40 embarcações transportando medicamentos e alimentos para entregar na Faixa de Gaza, indicou nas redes sociais que, apesar de "uma noite de táticas de intimidação" do Exército israelita, os membros da flotilha permanecem "calmos".
"Longe de nos dissuadir, as ameaças apenas fortaleceram a nossa determinação em continuar", o que passa por "romper o cerco israelita" à Faixa de Gaza e completar esta "missão não-violenta de solidariedade", lê-se no comunicado divulgado nas redes sociais.
Embora "todos estejam em segurança", a Flotilha Global Sumud mantém-se "vigilante" em relação ao que poderá acontecer nas próximas horas.
Três portugueses -- a líder bloquista, Mariana Mortágua, o ativista Miguel Duarte e a atriz Sofia Aparício -- integram a flotilha humanitária.
A agência Lusa tentou hoje contactar via telemóvel alguns dos elementos portugueses que integram a flotilha humanitária mas até ao momento o contacto não foi possível.
O Governo israelita instou hoje os navios da flotilha a não seguirem viagem, fazendo eco de mensagens emitidas desde terça-feira pelas autoridades espanholas, italianas e gregas.
Israel sustenta ter o direito de intercetar tais embarcações ao abrigo de uma zona de exclusão imposta na Faixa de Gaza por razões de segurança, embora os ativistas que seguem na flotilha tenham sublinhado que Israel não pode operar em águas internacionais ou em águas que estariam sob jurisdição palestiniana.
A guerra declarada por Israel a 07 de outubro de 2023 em Gaza para "erradicar" o movimento islamita palestiniano Hamas -- horas após um ataque a território israelita com cerca de 1.200 mortos e 251 reféns - fez, até agora, pelo menos 66.148 mortos e 168.716 feridos, na maioria civis, segundo números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
Fez igualmente milhares de desaparecidos, soterrados nos escombros e espalhados pelas ruas, e mais alguns milhares que morreram de doenças e infeções e fome, causada por mais de dois meses de bloqueio de ajuda humanitária e pela posterior entrada a conta-gotas de mantimentos, distribuídos em pontos considerados "seguros" pelo Exército, que regularmente abre fogo sobre civis famintos, tendo até agora matado 2.580 e ferido 18.930.
Há muito que a ONU declarou o território em grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" e "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo, mas a 22 de agosto emitiu uma declaração oficial do estado de fome na cidade de Gaza e arredores.
Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusara Israel de genocídio em Gaza e de usar a fome como arma de guerra, situação também denunciada por países como a África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça, e uma classificação igualmente utilizada por organizações internacionais de defesa dos direitos humanos.
Leia Também: Portugal pede a Israel que se abstenha de "violência" contra flotilha