Após ter excluído os Estados Unidos da sua digressão mundial que começa este ano (e só termina no próximo), Bad Bunny foi anunciado no passado domingo como o protagonista do intervalo do Super Bowl - um dos principais eventos da cultura popular americana. A polémica 'estalou', com apoiantes de Donald Trump a ficarem indignados com a decisão, revelou esta terça-feira a Agence France-Press.
O artista porto-riquenho - que passa pelo nosso país em concertos no Estádio da Luz, em Lisboa, nos dias 26 e 27 de maio - afirmou há poucas semanas em entrevista à revista britânica i-D que "houve muitos motivos pelos quais" não apareceu nos Estados Unidos "e nenhum deles foi por causa do ódio - já atuei lá muitas vezes".
Apesar de gostar "de se conectar com os latino-americanos que moram nos EUA", o cantor referiu ter receio que "a porra do ICE (Immigration and Customs Enforcement)" pudesse "estar do lado de fora [do concerto]", uma vez pessoas da América Latina poderiam deslocar-se até ao espetáculo e ser alvo de fiscalizações e deportações.
"Era algo sobre o qual estávamos a conversar e com o qual estávamos muito preocupados", confessou.
"Vai e diz à tua avó que seremos o espetáculo de intervalo do Super Bowl"
Contudo, a informação de que Bad Bunny seria o artista a protagonizar o intervalo da Super Bowl - no dia 8 de fevereiro - foi anunciada no domingo pela National Football League [NFL], Apple Music e a produtora Roc Nation. A atuação vai realizar-se no Levi's Stadium - no estado da Califórnia -, que recebe o jogo de futebol americano, sendo que o intervalo torna-se muitas vezes na atração principal.
Em comunicado citado pela imprensa internacional, o porto-riquenho, de 31 anos, disse: "O que estou a sentir vai além de mim. É por aqueles que vieram antes de mim e correram muito para que eu pudesse entrar e marcar um 'touchdown'".
"Isto é para o meu povo, para a minha cultura e para a nossa história. Vai e diz à tua avó que seremos o espetáculo de intervalo do Super Bowl", rematou o artista.
"O espetáculo do intervalo é a derradeira celebração de música e cultura, e poucos artistas personificam essa intersecção de forma mais perfeita e autêntica do que Bad Bunny", disse, por seu lado, o vice-presidente da Apple para o setor da música e desportos, Oliver Schusser, citado no mesmo texto.
Apoiantes de Trump em fúria: "Demoníaco", "não tem músicas em inglês"
Quem não ficou feliz pela escolha do artista de 'DeBÍ TiRAR MáS FOToS' para um dos mais marcantes espetáculos norte-americanos foram os apoiantes do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, avançou ontem a Agence France-Press.
Benny Johnson, produtor de conteúdo com mais de cinco milhões de seguidores no YouTube, já tinha partilhado a sua opinião crítica, na segunda-feira, na rede social X: "Odeia o Trump", "não tem músicas em inglês", "[a Liga de futebol americano] NFL está a autodestruir-se ano após ano", referiu.
This is Bad Bunny.
— Benny Johnson (@bennyjohnson) September 29, 2025
He was just announced as the 2026 Super Bowl halftime show.
- Massive Trump hater
- Anti-ICE activist
- No songs in English
He even canceled his entire U.S. tour for this reason: “F***ing ICE could be outside my concert. And it’s something that we were… pic.twitter.com/11KvuSWnEH
Nas redes sociais, o cantor e a NFL, estão a ser atacados por muitos produtores de conteúdo conservadores do movimento do presidente dos EUA, Donald Trump, 'Make America Great Again' (MAGA) - 'Tornar a América Grande Novamente', em tradução livre.
Por sua vez, o produtor de conteúdo de extrema-direita Jack Posobiec, com mais de três milhões de seguidores na rede social X, também criticou a decisão: "O melhor amigo do (antigo presidente) Barack Obama, (músico) Jay-Z, gere o processo de seleção do Super Bowl através da sua empresa, a Roc Nation, que tem um contrato exclusivo com a NFL. É ele quem escolhe o espetáculo do intervalo, o espetáculo musical mais visto nos Estados Unidos", disse.
Muitas das pessoas que ficaram indignadas com a decisão criticam Bad Bunny por cantar apenas em espanhol, destacando que muitos chamam o músico de "demoníaco", segundo a Agence France-Press (AFP).
Bad Bunny apoiou Kamala contra Trump em 2024
Os críticos de Bad Bunny também não gostam da forma como o cantor desafia as normas tradicionais do género e da forma como se veste e se maquilha. O cantor, que apareceu vestido de mulher num dos seus videoclipes, defende os direitos LGBTQIA+ e é contra o preconceito com pessoas trans.
Bad Bunny (nome artístico do músico Benito Antonio Ocasio), um dos artistas mais ouvidos do mundo, tinha apoiado a democrata Kamala Harris contra Donald Trump para as eleições presidenciais de 2024.
Desde que regressou ao poder, o presidente republicano tomou inúmeras decisões visando as pessoas transgénero e os imigrantes ilegais, especialmente os da América Central e Latina.
Recorde-se que a digressão 'DeBÍ TiRAR MáS FOToS' inicia-se em 21 de novembro em Santo Domingo, na República Dominicana, passando depois pela Costa Rica, México, Colômbia, Peru, Chile, Argentina, Brasil, Austrália e Japão, antes de chegar à Europa.
Leia Também: Idoso processa Bad Bunny por uso indevido de 'la casita'. Pede um milhão