Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, esta é a décima vez que a central ocupada pelas tropas russas está desligada da rede, mas, refere a diplomacia europeia, "este é o apagão mais longo e grave, especialmente porque a atividade militar continua a impedir a reparação e a religação das linhas de energia".
O SEAE insta a Rússia a "cessar imediatamente todas as operações militares em torno da central nuclear, a fim de permitir o restabelecimento urgente das linhas de energia", dado que a central "depende atualmente exclusivamente de geradores de emergência a gasóleo para fornecer a eletricidade necessária" à segurança nuclear, e uma "perda prolongada" poderia comprometê-la.
A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) já ordenou a reparação das linhas de energia de acordo com os princípios da organização.
O SEAE sublinha que "as tentativas russas de tomar ilegalmente a central nuclear" são inválidas ao abrigo do direito internacional, e que a Rússia "deve retirar imediata, incondicional e completamente todas as suas forças, equipamento militar e outros funcionários não autorizados da central nuclear e de todo o território da Ucrânia".
Conquistada pelas tropas russas em março de 2022, no início da invasão em grande escala da Ucrânia, a central, localizada em Enerhodar, na região de Zaporijia (sul), é a maior da Europa.
Os seis reatores da central nuclear estão desligados, mas é necessária uma fonte de alimentação externa para continuar a arrefecê-los.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, alertou hoje que a central nuclear de Zaporijia, ocupada pelas forças russas, está desligada da rede elétrica ucraniana há sete dias consecutivos, numa situação "crítica".
"A situação é crítica. Devido aos ataques russos, a central foi cortada do fornecimento de energia e da rede elétrica. É alimentada por geradores a gasóleo", disse Zelensky no seu discurso diário.
"São os russos que estão a impedir a reparação das linhas de energia que conduzem à central e o restabelecimento da segurança básica com os seus ataques. E isto representa absolutamente uma ameaça para todos", acrescentou.
A Ucrânia acusa Moscovo de tentar ligar a central nuclear de Zaporijia à rede russa, construindo para o efeito 200 quilómetros de linhas de energia.
O operador da central, controlada pelo grupo russo Rosatom, confirmou que a instalação está sem fornecimento de energia externa desde terça-feira da semana passada e que os geradores de emergência asseguram as suas necessidades.
Segundo esta fonte, existem reservas de combustível suficientes para um "funcionamento prolongado" em autonomia e o arrefecimento dos motores é realizado "na totalidade".
O chefe da AIEA, Rafael Grossi, foi recebido no Kremlin na semana passada pelo Presidente Vladimir Putin, no âmbito de uma visita à Rússia.
Na sua conta na rede X, Grossi disse ter discutido com o chefe da Rosatom, Alexey Likhachev, "a segurança e proteção" de Zaporijia.
A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 - após o desmoronamento da União Soviética - e que tem vindo a afastar-se da esfera de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.
No plano diplomático, a Rússia rejeitou até agora qualquer cessar-fogo prolongado e exige, para pôr fim ao conflito, que a Ucrânia lhe ceda pelo menos quatro regiões - Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia - além da península da Crimeia, anexada em 2014, e renuncie para sempre a aderir à NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental).
Estas condições são consideradas inaceitáveis pela Ucrânia, que, juntamente com os aliados europeus, exige um cessar-fogo incondicional de 30 dias antes de entabular negociações de paz com Moscovo.
Por seu lado, a Rússia considera que aceitar tal oferta permitiria às forças ucranianas, em dificuldades na frente de batalha, rearmar-se, graças aos abastecimentos militares ocidentais.
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