A Justiça chinesa condenou 11 membros da mesma família à morte, por crimes de fraude em telecomunicações, casinos ilegais, tráfico de drogas e prostituição. Na sua grande maioria terão acontecido fora da China, no país vizinho Mianmar.
Em causa está a infame família Ming, que trabalhava para um dos quatro clãs que controlam Laukkaing, em Mianmar - um centro de jogos de azar, drogas e crimes, em geral, no país que faz fronteira com a China. Entre eles, está o uso dos chamados ‘ciberescravos’.
O ano passado, a BBC reportava como é que estas situações acontecem, relatando a história de Ravi (nome falso), de 24 anos, que foi sequestrado numa viagem em direção à Tailândia, onde ia começar a trabalhar como técnico informático.
O jovem contou que em Mianmar foi vendido a um centro controlado por gangues chineses, que se especializavam em crimes cibernéticos.
Durante horas a fio, Ravi, e outros tantos, fingiam ser mulheres para enganaram homens que se sentiam sozinhos nos Estados Unidos e na Europa, extorquindo-lhes dinheiro. Se se recusassem a obedecer eram torturados.
"Tiraram-me a roupa, obrigaram-me a sentar numa cadeira e me deram-me choques elétricos nas pernas. Achei que minha vida tinha chegado ao fim", recordou Ravi.
"Passei 16 dias numa cela por me recusar a obedecer. Só me davam água misturada com beatas de cigarro e cinzas", contou. "No quinto ou no sexto dia, duas raparigas foram levadas para uma cela próxima. Foram violadas por 17 homens mesmo à frente dos meus olhos. Uma delas era filipina, a outra não tenho a certeza", relatou.
A Organização das Nações Unidas estima que mais de 100 mil estrangeiros, na sua maioria chineses, foram atraídos para centros semelhantes a este, sob a promessa de trabalhos na área de informática.
A família Ming seria uma das que operava desta mesma forma em Mianmar.
Diz o g1, que os Ming eram os responsáveis pela administração dos centros em Laukkaing, onde empregavam, pelo menos, 10 mil pessoas - lá seriam espancados e torturados reiteradamente, sendo que o próprio tribunal, que condenou a família, considerou que foi responsável pela morte de várias pessoas. Aliás, o processo revelou mesmo que os Ming chegaram a disparar contra funcionários para os impedir de regressar à China.
Ao todo, a Justiça chinesa condenou 39 membros da família na segunda-feira, 29 de setembro, sendo que 11 receberam a pena de morte. Outros cinco também foram sentenciados à morte, mas com suspensão de dois anos, 11 foram condenados a prisão perpétua e os restantes receberam penas entre cinco e 24 anos.
Ao todo, os Ming terão gerado mais de 10 mil milhões de yuans (mais de 1 milhão de euros) desde 2015, fruto das suas atividades criminosas.
A detenção dos membros desta família agora condenados ocorreu em 2023, após uma ofensiva de diversos grupos insurgentes que expulsaram as forças armadas de Mianmar de grandes áreas do Estado de Shan (onde os Ming detinham a maior parte da sua influência) e assumiu o controlo de Laukkaing.
Na altura, o patriarca da família, Ming Xuechang tirou a própria vida, enquanto os seus parentes foram detidos e transferidos para a custódia chinesa. Alguns mostraram arrependimento após a detenção.
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