De acordo com a Associação Marroquina para os Direitos Humanos, dezenas de pessoas foram presas no sábado, incluindo algumas que foram agredidas e outras que foram depois libertadas esta manhã, confirmando que "há repressão das vozes livres e restrição do direito à liberdade de expressão" neste país do norte de África.
Centenas de jovens marroquinos saíram às ruas em pelo menos 11 cidades em todo o país, denunciando a corrupção e criticando o governo por investir dinheiro em eventos desportivos internacionais enquanto negligencia a saúde e a educação, de acordo com o relato feito pela agência norte-americana de notícias Associated Press.
Os manifestantes estabeleceram uma ligação direta entre o sistema de saúde em dificuldades do país e os investimentos públicos na preparação do Campeonato do Mundo da FIFA de 2030, que será organizado também por Portugal e Espanha, gritando slogans como 'Os estádios estão aqui, mas onde estão os hospitais?'.
Marrocos está a construir pelo menos três novos estádios e a renovar ou expandir pelo menos meia dúzia de outros, preparando-se para coorganizar o evento, e o país também será o palco da Taça das Nações Africanas, no final deste ano.
Polícias à paisana e equipados com material anti-motim interromperam protestos em várias cidades, incluindo Rabat e Marraquexe, e prenderam manifestantes, inclusive em Casablanca, segundo noticia a Associated Press.
Desde há pelo menos uma década, os protestos em Marrocos têm-se centrado frequentemente nas desigualdades regionais e nas prioridades do governo em Rabat, mas os comícios à escala nacional deste fim de semana reuniram-se em torno de um conjunto de incidentes no país, que incluem a morte de oito mulheres ao dar à luz num hospital público em Agadir, uma grande cidade costeira quase 500 quilómetros a sul de Rabat.
Na reportagem sobre as manifestações, a Associated Press nota também que ao contrário dos protestos anteriores, que eram impulsionados por sindicatos ou partidos políticos, o movimento sem líderes que organizou os protestos deste fim de semana divulgou-os amplamente em plataformas de redes sociais como TikTok e Discord, populares entre adolescentes.
Em Marrocos, as pessoas nascidas entre 1995 e 2010 constituem a maior parte da população, e as manifestações do fim de semana foram referidas como os protestos da Geração Z. Os jovens marroquinos inspiraram-se no Nepal, onde protestos liderados por jovens canalizaram a raiva generalizada pela falta de oportunidades, corrupção e nepotismo.
As autoridades negaram ter dado prioridade às despesas com o Mundial de Futebol em detrimento das infraestruturas públicas, afirmando que os problemas enfrentados pelo setor da saúde, visíveis em Agadir, existem desde os anos 60.
Dados da Organização Mundial da Saúde de 2023 mostram que Marrocos tem apenas 7,7 profissionais médicos por 10 mil habitantes e muito menos em certas regiões, incluindo Agadir, com 4,4 por cada 10 mil, sendo que a OMS recomenda um rácio de 25 profissionais de saúde para cada 10 mil habitantes.
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