O financeiro reformado de Wall Street Howard Rubin, de 70 anos, está a ser novamente acusado pela Justiça norte-americana de tráfico sexual e de transportar mulheres para outros Estados com o objetivo de as prostituir.
A acusação diz que Rubin, auxiliado pela assistente pessoal, Jennifer Powers, atraía mulheres para o apartamento do ex-financeiro, em Manhattan, e aí eram abusadas e violentadas pelo próprio.
O quarto para onde eram levadas estava pintado de vermelho e construído à prova de som, repleto de instrumentos para usar nas mulheres, relata o The New York Times.
As vítimas eram recrutadas pela dupla, que lhes pagava para participarem em cenas de 'bondage' (que consiste em amarrar um dos envolvidos) e de sadomasoquismo. Mas os atos que aconteciam na alegada sala vermelha ultrapassavam em muito aquilo que tinha sido acordado por ambas as partes, segundo a acusação.
Os procuradores norte-americanos afirmam que Rubin se aproveitou das mulheres, muitas das quais tinham historial de relações abusivas e de dependência de drogas, ignorando quando usavam as 'safe words' (palavras de segurança) ou impedindo-as sequer de falar, amordaçando-as. Mesmo que as vítimas conseguissem afastar-se, não iriam longe: a sala permanecia quase sempre trancada durante os encontros.
A acusação relata ainda casos em que o alegado agressor drogou ou embebedou as vítimas, antes do ato sexual, chegando mesmo a deixar uma das mulheres completamente inconsciente para poder realizar uma fantasia sua de violação.
Assistente tirava notas sobre o grau de satisfação de Rubin após os encontros
Nos contratos de confidencialidade, que Rubin e Powers entregavam às mulheres antes do ato, estava estipulado que o ex-financeiro não tinha fornecido drogas ou álcool às vítimas. Para além disto, a mulher assumia ainda todos os riscos que pudessem resultar das atividades praticadas (e acordadas no contrato) e ficavam legalmente impedidas de falar sobre os atos sexuais publicamente.
Caso o contrato fosse violado, as vítimas teriam de pagar a Rubin meio milhão de dólares (cerca de 500 mil euros).
A parte logística do alegado tráfico ficava, maioritariamente, à responsabilidade de Powers, que não só recrutava e pagava às mulheres, como também garantia que as mesmas assinavam o contrato e anotava se Rubin tinha ficado satisfeito após os encontros.
A assistente pessoal foi também acusada de tráfico sexual pela Justiça norte-americana.
Ao todo, o esquema deve ter custado cerca de um milhão de dólares (cerca de 854 mil euros) à dupla ao longo de dez anos - entre 2009 e 2019.
Contudo, uma das procuradoras, Tara McGrath, diz que há, pelo menos, dez outras pessoas que ajudaram Rubin a levar a cabo o esquema e que acabaram por não ser acusadas por falta de provas. De igual modo, o número de vítimas será também muito superior ao da acusação atual, elevando-se para as dezenas de mulheres abusadas por este homem.
Rubin e Powers já tinham sido processados por tráfico em 2017
Este caso não é o primeiro em que Rubin e Powers foram visados. Em 2017, foram alvo de um processo civil, que cinco anos depois, culminou no pagamento de uma indemnização de quase quatro milhões de dólares - exatamente devido a acusações de tráfico.
Na nova acusação, foram descobertas mensagens entre Rubin e Powers, que remontam a essa altura, enviadas a partir dos e-mails de trabalho, onde o ex-financeiro retratava com júbilo os encontros sexuais e a violência dos mesmos.
Em 2013, numa destas conversas, Rubin regozijou que deixou uma das mulheres "dorida e com nódoas negras durante, provavelmente, uma semana".
Um dos procuradores no caso atual afirmou ainda que o ex-financeiro ameaçou as testemunhas no caso contra si, tendo dito a uma das mulheres que tinha contratado um assassino profissional para abater matar quem o tinha processado. Segundo a Justiça, as ameaças são vazias e Rubin nunca chegou a fazer esta contratação.
Perante as ameaças e o facto de terem sido encontrados oito telemóveis na casa de Rubin, na altura da sua detenção, o juiz determinou que o homem vai permanecer detido, dado que há indícios de que estaria a "planear ou a tentar fugir de algo".
Na primeira audiência, Rubin negou todas as acusações relembrando que era "um homem casado". Um dos advogados do acusado, descreveu também o mesmo como um homem de família, que passa grande parte dos seus dias a tomar conta dos netos e relembrou ainda que Rubin sofreu um ataque cardíaco em julho.
Rubin tornou-se uma 'estrela' de Wall Street depois de aparecer num livro em 1989
Howard Rubin tornou-se um dos homens mais conhecidos de Wall Street, após o livro ‘Liar’s Poker’ de Michael Lewis chegar às bancas em 1989, sobre a operação um dos melhores bancos do mundo, o ‘Salomon Brothers’, nos anos 80.
Rubin, que começou a trabalhar no banco em 1982, depressa se destacou como um dos seus operadores mais astutos. "De todos os negociadores, Rubin demonstrava um instinto inato para a bolsa", escreveu o autor.
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