Numa breve declaração emitida na noite de quarta-feira, o gabinete do secretário-geral da ONU explicou que António Guterres recebeu uma mensagem da Missão Permanente dos Estados Unidos (EUA) "sobre os acontecimentos ocorridos durante a visita do Presidente Trump à sede das Nações Unidas", no dia 23 de setembro, quando o líder discursou no debate geral da 80.ª sessão Assembleia-Geral.
"O secretário-geral informou a Missão Permanente dos EUA que já tinha ordenado uma investigação completa e comunicou que a ONU está pronta para cooperar com total transparência com as autoridades americanas sobre este assunto para determinar a causa dos incidentes mencionados pelos Estados Unidos", concluiu o comunicado assinado pelo porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric.
Já Donald Trump afirmou, na sua plataforma Truth Social, que os três incidentes em causa --- problemas de funcionamento numa das escadas rolantes do edifício, no teleponto e no sistema de áudio da sala da Assembleia-Geral - "não foram uma coincidência, mas uma tripla sabotagem na ONU".
"Não foi uma coincidência, mas uma tripla sabotagem na ONU. Eles deveriam ter vergonha de si mesmos. Estou a enviar uma carta ao secretário-geral e a exigir uma investigação imediata", escreveu o chefe de Estado norte-americano.
O mau funcionamento da escada rolante, que foi resolvido em questão de minutos, foi agravado por problemas com o teleponto durante os momentos iniciais do discurso de Trump perante a Assembleia-Geral e por supostas deficiências do sistema áudio na sala - que já tinham sido relatadas no dia anterior.
"Não um, não dois, mas até três eventos sinistros! (...) Não é de admirar que a ONU não tenha conseguido fazer o trabalho para o qual foi criada", acusou Donald Trump.
A par destas declarações, o líder norte-americano já tinha lançado um duro ataque à ONU durante a sua intervenção na Assembleia-Geral.
Na terça-feira, Trump usou parte do seu discurso de 55 minutos para atacar a organização internacional em todas as frentes: a sua ineficiência, incapacidade de acabar com as guerras, "mentiras" sobre as mudanças climáticas e a sua suposta promoção da imigração ilegal.
Contudo, esses ataques não impediram Donald Trump de se reunir posteriormente com António Guterres e declarar que o seu país apoia "100%" a ONU, palavras que agora são questionadas à luz de tudo o que se seguiu.
Desde que regressou à Casa Branca para cumprir um segundo mandato presidencial, em janeiro passado, Trump tem assumido posições que têm distanciado cada vez mais os Estados Unidos da organização multilateral: abandonou os acordos climáticos de Paris, retirou-se da Organização Mundial da Saúde e da UNESCO, congelou o financiamento para cooperação internacional e marginalizou explicitamente a ONU nos seus esforços para acabar com as sete guerras que alega ter resolvido sozinho.
Junta-se a isto a ausência de contactos com o secretário-geral da ONU, com quem não havia sequer falado por telefone desde que regressou à Casa Branca.
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