O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sublinhou esta terça-feira, durante o seu último discurso na 80.ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) o trabalho do Secretário-Geral da organização, o português António Guterres.
"As reformas por que tem lutado desde 2017, que incluem agora a UN80 e o Pacto para o Futuro são a sua marca e o seu legado", afirmou o Chefe de Estado, que para o elogio fez questão de falar em português (indo traduzindo para inglês à medida que falava).
"É um orgulho para mim ter um português como Secretário-Geral das Nações Unidas", acrescentou, "ter uma forma portuguesa de estar nas relações internacionais".
Marcelo Rebelo de Sousa frisou ainda a perseverança de António Guterres, por nunca ter desistido, tal como sempre disse.
"Conheço-o desde que éramos adolescentes e ele nunca desistiu. E esteve sempre correto", afirmou o Presidente que garantiu ainda que Guterres "contará sempre com o apoio de Portugal".
O chefe de Estado português realçou ainda que vivemos numa altura de "múltiplas crises" e num "momento existencial" que, continuando sem mudanças e sem modernizações pode levar a que a ONU seja "marginalizada" pelo mundo e até mesmo "deixados à lei do mais forte".
Desde 2016 que o Presidente da República apela ao multilateralismo
O seu último discurso enquanto Presidente da República na ONU seguiu a linha dos anteriores, apelando ao multilateralismo, ao diálogo e à cooperação entre países.
Na sua intervenção de estreia, na 71.ª sessão da Assembleia Geral da ONU, em 2016, Marcelo Rebelo de Sousa esteve focado na candidatura de António Guterres e considerou durante o discurso que o novo secretário-geral deveria ser "um congregador de espíritos e de vontades", na linha de Mahatma Gandhi e Nelson Mandela.
Dois anos depois, na 73.ª sessão da Assembleia Geral da ONU, já com Donald Trump na Casa Branca, Marcelo Rebelo de Sousa colocou-se ao lado de António Guterres nas suas prioridades como secretário-geral, criticando o presidente norte-americano, que na abertura do debate geral tinha rejeitado "a ideologia do globalismo", em favor da "doutrina do patriotismo".
Na sua intervenção na 74.ª sessão da Assembleia Geral da ONU, em defesa do multilateralismo, o Presidente português avisou que se deve "aprender a História e as suas lições" e lembrou o fracasso da Liga das Nações, que não evitou a II Guerra Mundial.
Em 2021, já no mandato de Joe Biden como Presidente dos Estados Unidos da América, e no contexto da pandemia de covid-19, condenou uma vez mais o isolacionismo, o populismo e a xenofobia, apelou a um "multilateralismo efetivo", e defendeu as vacinas como bem público.
E, na sua intervenção anterior, em setembro de 2023, quando falou na ONU pela primeira vez desde a invasão russa da Ucrânia em fevereiro do ano anterior, Marcelo Rebelo de Sousa sustentou que a luta do povo ucraniano é inseparável da exigência de respeito pela Carta das Nações Unidas.
Elogios de Marcelo acontecem após críticas de Trump
O discurso de Marcelo Rebelo de Sousa que elogiou o Secretário-Geral da ONU e frisou a importância da organização veio no seguimento de uma intervenção bastante crítica de Donald Trump.
Durante o discurso do presidente norte-americano no debate de alto nível da Assembleia-Geral da ONU, Trump atacou duramente a organização, acusando-a de não "ajudar" a acabar com as guerras ao redor do mundo.
"Se for esse o caso, qual é o objetivo das Nações Unidas?", questionou o Presidente, denunciando a ineficiência da organização porque "tudo o que parecem fazer é escrever cartas muito fortes e depois não cumpri-las".
Trump também acusou a ONU de promover a imigração ilegal e mentir sobre a crise climática. Criticou igualmente a organização por não contratar a sua empresa para reabilitar o edifício em que está instalada.
Contudo, poucos minutos depois, numa reunião com Guterres o discurso de Trump mudou significativamente.
"O nosso país apoia as Nações Unidas a 100%. Acho o potencial das Nações Unidas incrível. Verdadeiramente incrível. Podem fazer tanto, eu apoio-as. Posso discordar [das Nações Unidas] às vezes, mas apoio-as totalmente", declarou Trump.
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