Numa intervenção na 80.ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, Erdogan sustentou que a liderança israelita do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, "está completamente fora de controlo" e que o conflito já chegou "aos 700 dias de genocídio" .
"Netanyahu não está interessado na paz e na libertação de reféns. [...] Israel aumentou até a agressão nos territórios palestinianos e lançou, ao mesmo tempo, ataques também na Síria, no Iémen e no Líbano. E até o Qatar [país mediador em conjunto com Estados Unidos e Egito] foi alvo de um ataque ao local onde se encontrava a delegação palestiniana às negociações de paz", afirmou Erdogan.
O presidente turco lamentou a ausência do homólogo palestiniano, Mahmoud Abbas, na Assembleia-Geral da ONU, sobretudo numa altura em que mais de uma dezena de países, entre eles Portugal, reconheceu oficialmente da Palestina como Estado, tendo apelado aos que ainda não o fizeram, a tomar idêntica decisão.
"São 700 dias de genocídio [sobre o ataque em Gaza e na Cisjordânia]. Israel continua a massacrar palestinianos em Gaza, onde já morreram mais de 65.000 pessoas. Ainda não sabemos quantos mais. Mais, a cada hora, Israel mata uma criança, muitas delas à fome", frisou Erdogan, que, ao longo da intervenção, mostrou fotografias de mulheres a pedir comida, de crianças desnutridas e de parte da população de Gaza no meio de uma avenida sobre os destroços e escombros dos prédios adjacentes.
"São infraestruturas destruídas, hospitais destruídos. Isto representa o ponto mais baixo da humanidade. Nunca houve tanto sangue este século. O genocídio em Gaza é transmitido em direto, apesar de mais de 260 jornalistas terem sido mortos", frisou, elogiando o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, por "lembrar diariamente" o que se passa no Médio Oriente e "combater" as críticas de Netanyahu.
"Existe alguma explicação para isto", questionou Erdogan, para quem o mundo não pode continuar a assistir a "esta loucura", pelo que é necessário um cessar-fogo para pôr rapidamente fim às hostilidades e ao "genocídio".
O Presidente turco também defendeu a paz e estabilidade na vizinha Síria, onde o novo regime, após o fim da liderança do clã Al-Assad, a 08 de dezembro de 2024, deve ser apoiado pela comunidade internacional, com a Turquia na primeira linha da reconstrução do país e da luta contra os atos terroristas, já escassos, do grupo extremista Al-Qaida.
Após falar sobre o conflito no Médio Oriente e das novas relações com as autoridades de Damasco, lideradas pelo Presidente interino Ahmed al-Sharaa, Erdogan aludiu aos restantes conflitos no mundo, como o existente entre a Ucrânia e a Rússia, defendendo a retoma do Diálogo de Istambul, as negociações diretas para a paz, que envolve também a troca de prisioneiros entre Kiev e Moscovo.
O Presidente turco também defendeu o diálogo em vários outros conflitos, como o que opôs Arménia e Azerbaijão, que já assinaram um acordo de paz, com a mediação dos Estados Unidos, mas que necessita de acompanhamento.
Erdogan salientou o empenho turco nas negociações com a União Europeia (UE) e na Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, cuja próxima cimeira decorrerá na Turquia em 2026), no Processo de Ancara, que permite continuar a apoiar o diálogo entre a Etiópia e Somália, e na Convenção de Montreux, que garante segurança no Mar Negro.
Erdogan expressou o desejo de haver paz e estabilidade nos Balcãs e do fim do conflito no Sudão, de ver a questão nuclear iraniana rapidamente resolvida -- "não há espaço para mais problemas" -- e congratulou-se com o fim da tensão entre Paquistão e Índia, sublinhando que a questão de Caxemira deve ser resolvida no quadro do diálogo e na ONU.
Por fim, apelou à comunidade internacional que reconheça a República Turca de Chipre do Norte.
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