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Fiéis enfrentam altas restrições na Mesquita de al-Aqsa e imã acaba preso

Os fiéis muçulmanos voltaram a enfrentar hoje altas restrições na Mesquita de al-Aqsa, em Jerusalém ocupada, onde a segurança israelita impediu a entrada de fiéis mais jovens e acabou por deter temporariamente o seu imã.

Fiéis enfrentam altas restrições na Mesquita de al-Aqsa e imã acaba preso

© Lusa

Lusa
19/09/2025 20:22 ‧ há 1 semana por Lusa

Numa manhã de sexta-feira de orações longe das multidões habituais, a Cidade Velha de Jerusalém apresentava em alternativa um elevado aparato de segurança, com controlos individuais da polícia, que levou a que centenas de fiéis fossem deixados no exterior, onde ainda assim prosseguiram as suas orações.

 

Ao fim do fim do dia, a imprensa palestiniana noticiou que o imã Mohammad Sarandah foi detido para interrogatório no seguimento do seu discurso em al-Aqsa e posteriormente libertado, ficando impedido de entrar no terceiro lugar mais importante do Islão durante uma semana e com a possibilidade em aberto de a proibição ser renovada.

De acordo com a agência palestiniana Wafa, o xeque Sarandah terá ainda de se apresentar novamente às autoridades quando a proibição terminar, não tendo sido fornecidos detalhes sobre o teor do discurso que poderá ter conduzido à sua detenção.

À saída do complexo, cujo acesso é também vedado pela polícia israelita a não fiéis, Hisham, um professor universitário jubilado da Universidade de Jerusalém, partilhou que o imã focou a sua mensagem na ideia de que "não importa o que eles [numa alusão a Israel] façam, Deus vai garantir ações que os impeçam de continuar e derrotá-los", mas não encontrou nenhuma mudança com substância em relação a discursos anteriores.

A detenção do líder islâmico ocorreu no dia em que as Forças de Defesa de Israel (FDI) anunciaram a detenção em Ramallah de "uma célula terrorista armada suspeita de tentar lançar um 'rocket' da zona de Na'ama em direção ao território israelita na semana passada".

Na operação, as FDI indicaram que foram detidas três pessoas e apreendidos dezenas de foguetes, explosivos e uma oficina de fabrico de 'rockets'.

Trata-se de um novo episódio de tensão na Cisjordânia ocupada, cujos habitantes estão impedidos de entrar em Jerusalém, incluindo a Esplanada das Mesquitas, como era anteriormente habitual antes dos massacres do grupo islamita palestiniano Hamas no sul de Israel, em 07 de outubro de 2023, e que desencadearam a atual guerra no enclave da Faixa de Gaza.

"Desde então começou a ser cada vez mais difícil vir aqui, até para quem vive em Jerusalém e possui documentos israelitas", descreve Hisham, que não antevê "mudanças tão depressa, bem pelo contrário".

Para o antigo professor de física de 63 anos, a comunidade palestiniana de Jerusalém "tem de lidar com um alto nível de força e pressão, que só vai parar com um nível de força equivalente", ou de outro modo "tudo continuará igual ou pior".

Os anúncios iminentes do reconhecimento do Estado Palestiniano por países ocidentais - numa lista que inclui França, Reino Unido e também Portugal, - são bem-vindos, mas "nada vão mudar se tudo ficar só no papel e não for exercida pressão real sobre Israel", através do isolamento internacional e sanções.

Doo mesmo modo, não prevê mudanças dentro do país, porque, no final, "Governo e oposição acabam por decidir o mesmo".

Mesmo com a memória dos piores momentos de violência entre israelitas e palestinianos nas últimas décadas, Hisham jamais pensou que "Israel fosse tão longe" como apontam os relatos da sua operação de retaliação contra o Hamas na Faixa de Gaza, onde as autoridades locais controladas pelos islamitas palestinianos dão conta de mais de 65 mil mortos em quase dois anos de um conflito que peritos da ONU consideram configurar um genocídio.

"Este é o sinal mais claro de que Israel está em declínio, quando faz inimigos em todas as direções", frisa, numa declaração que abre oportunidade para recuperar o discurso do imã de al-Aqsa sobre os desígnios de Deus e que o fazem "nunca perder a esperança".

Na Porta dos Leões, agentes da polícia vigiam a passagem dos fiéis e muitos deles, sobretudo os mais jovens, são barrados sem que eles encontrem uma explicação, mas estas proibições também já não lhes trazem novidade. Vários nem ensaiam qualquer argumentação e procuram de imediato o acesso por outras entradas ou realizar uma nova tentativa na mesma, quase nunca bem sucedida. Mohammad conseguiu, mas só à terceira.

O jovem de 25 anos não se vê como "um perigo para ninguém" e só buscava hoje "um momento de conforto, que é em al-Aqsa 500 vezes mais poderoso do que em qualquer outra mesquita", não lhe servindo de nada alegar que é apenas um estudante de Ciências Computacionais numa universidade israelita.

Num momento de tensão permanente e em crescendo em Jerusalém Oriental, Mohammad observa que, por cada presença em al-Aqsa ganha a calma que lhe falta no mundo exterior e deixa o aviso de que "não é muito inteligente deixar os jovens zangados".

Os impedimentos acumulam-se às dezenas e até outro Mohammad, mas mais velho, de 63 anos, é forçado a ficar do lado de fora, exibindo um cartão que demonstra a sua condição de deficiente, e nem ousa voltar a desafiar os agentes policiais.

"Não quero ser espancado, já tenho doenças que cheguem", resigna-se, adicionando "que nunca foi tão difícil a vida de um palestiniano em Jerusalém como agora".

Não é o único homem mais velho a experimentar os critérios considerados aleatórios da polícia, que já visaram também Suliman Abu al-Hawa, 84 anos, um habitante das proximidades do Monte das Oliveiras a quem por vezes é dito que teria de morar na Cidade Velha para aceder à Esplanada das Mesquita.

"A situação já era má antes do 07 de outubro e ficou miserável depois. O que se passa na Cidade Velha é só uma parte, porque em Jerusalém, em Jericó, em toda a parte para onde vou, encontro problemas com as autoridades, mesmo tendo documentos israelitas, até em casa me sinto asfixiado com a pressão de licenças, multas, etc", desabafa o homem palestiniano, para quem a vida dos seus avós "era muito mais fácil".

A Cidade Velha já tinha enfrentado dias de paralisia durante a pandemia de Covid-19 e, quando tudo se encaminhava para a devolução da normalidade, veio o 07 de outubro e "mais de metade dos clientes desapareceram no dia seguinte", lamenta Ahmad al-Wad, dono de loja de especiarias junto da Via Sacra.

O seu vizinho, Marwan, conta num português esforçado que aprendeu numa escola cristã de Jerusalém que a clientela da sua loja de artesanato, com grandes contingentes do Brasil e igualmente de Portugal, também sumiu, procurando manter-se afastado da tensão que se acumula fora das muralhas, mas que de algum modo vem ter com ele.

Antes da chamada para a oração na grande mesquita de Jerusalém, várias pessoas relataram a presença de colonos israelitas em atos de provocação, à semelhança do que o ministro da Segurança, Itamar Ben-Gvir (extrema-direita), já tinha feito em junho pela oitava vez em três anos, um dia após ter sido sancionado por Reino Unido e outros quatro países por incitação à violência contra os palestinianos.

Já no fim da celebração de hoje junto da Porta dos Leões, um jovem judeu começou a rezar sobre as mesmas lajes ainda quentes onde dezenas de muçulmanos barrados tinham justamente terminado as suas preces. Mas também ele acabou por ser expulso pela polícia.

Leia Também: Mães de reféns e soldados acorrentam-se junto da casa de Netanyahu

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