Segundo o coordenador de Emergências dos Médicos Sem Fronteiras, Jacob Granger, que se encontra na cidade de Deir al-Bala, no centro de Gaza, há cada vez menos pessoas na cidade devido à operação militar e à pressão para que tanto a população como as organizações humanitárias abandonem a região.
Mas "é extremamente difícil para a população deslocar-se para sul e deixar a cidade de Gaza, especialmente por o número [de pessoas] ser tão elevado e por não existirem instalações, infraestruturas ou espaço suficientes para receber todos", adiantou o responsável da organização.
"Há um mês, estimava-se que a cidade de Gaza tivesse cerca de um milhão de habitantes. Todas estas pessoas vivem em condições absolutamente precárias. Há falta de alimentos e de água, bem como falta de acesso a serviços médicos básicos", afirmou, embora o Exército israelita tenha indicado que cerca de 400 mil pessoas já fugiram da cidade.
"É muito difícil estimar quantas pessoas conseguiram sair da cidade de Gaza para sul, mas também é verdade que muitas outras não conseguem sair da cidade porque não têm onde se abrigar", constatou Granger.
"A população tem de escolher entre ficar num abrigo, seja uma tenda ou parte de um edifício, que está quase sempre sobrelotado, e sofrer as operações militares na cidade de Gaza, ou deixar todos os seus pertences no norte e tentar ir para sul, em busca de um pedaço de terra para se voltar a estabelecer", reiterou.
Explicando que "a chamada 'zona humanitária' designada pelas autoridades israelitas no sul, em Khan Yunis, tem aproximadamente 42 quilómetros quadrados", Jacob Granger lembrou que é esperado que mais de dois milhões de pessoas sejam ali concentradas.
Para aqueles que preferem ficar, os desafios não são menores.
"Na Faixa de Gaza, quase não há edifícios de pé, a maioria da população vive em tendas sobrelotadas, mas as autoridades israelitas não estão a permitir a entrada de tendas suficientes para abrigar os residentes de Gaza", explicou.
Além disso, mais de 70% da população de Gaza não tem rendimentos regulares e o acesso ao dinheiro é muito difícil, sendo que são necessários milhares de dólares para as pessoas se deslocarem para o sul.
Por isso, sublinhou o coordenador da organização humanitária, "as necessidades que a MSF está a satisfazer em Gaza hoje são avassaladoras" quer em termos de alimentos e água, quer de serviços médicos.
"Numa das clínicas que ainda temos em funcionamento, estamos a atender casos cada vez mais graves", alertou, sublinhando que o hospital Al-Shifa, o maior ainda em funcionamento no norte, tem uma taxa de ocupação de camas de 250%.
Tem também acesso a material médico muito limitado, que é "insuficiente para prestar serviços médicos vitais à população", lamentou, apontando para o acesso "cada vez mais restrito" a água potável para referir que há "um número crescente de pessoas incapazes de satisfazer esta necessidade básica".
No entanto, observou, "a necessidade mais básica de toda a população da Faixa de Gaza é a segurança".
"Hoje, não há lugar seguro nem no norte nem no sul da Faixa. Precisamos de segurança, precisamos do fim das atividades militares israelitas", defendeu.
"Exigimos que a comunidade internacional e o Governo israelita garantam o acesso de agentes humanitários e de ajuda humanitária em geral à Faixa de Gaza, e à cidade de Gaza em particular", reivindicou, sublinhando que "neste momento, o único obstáculo à entrada de ajuda humanitária em Gaza é o Governo israelita".
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