"Nós estamos a apoiar as Forças Armadas de Defesa de Moçambique [FADM], elas próprias, a conseguir fazer esta avaliação, conseguirem estar estruturadas e capacitadas para manterem uma posição firme no combate ao que está a acontecer em Cabo Delgado por forma a atingir a estabilidade e segurança", disse o novo comandante da EUMAM-MOZ, o comodoro César Manuel Pires Correia.
O responsável falava à margem da cerimónia de receção do comando da EUMAM-MOZ, em Maputo, no qual substitui o brigadeiro Luís Barroso.
Questionado pelos jornalistas se com a formação ministrada pela EUMAM-MOZ as forças moçambicanas têm capacidade para travar os ataques, incluindo prestar assistência aos deslocados, o novo comandante disse que "não compete à missão da UE fazer essa avaliação".
"A missão da UE é uma missão não executiva na sua essência, conforme está definido no nosso mandato. Nós não temos contacto direto em Cabo Delgado, não é essa a nossa função, a nossa função é apoiar as FADM a estar melhor capacitadas para elas fazerem essa estabilização em Cabo Delgado", frisou.
César Correia é o último comandante desta força que termina a sua missão em Moçambique em junho de 2026, com o responsável a afirmar haver ainda muito trabalho a fazer na capacitação das forças locais.
"Sinto-me muito honrado por ter sido escolhido pelas autoridades de Portugal e por ter sido aceite pela União Europeia. É uma honra enorme, um desafio, mas ao mesmo tempo uma oportunidade de pôr em prática na missão que me foi concedida toda a experiência que tenho acumulado e a experiência dos militares que vão trabalhar comigo no sentido de ajudar as FADM", disse.
"A EUMAM-MOZ continuará a sua missão de apoio às FADM no desenvolvimento e reforço das capacidades que melhoram as capacidades da forças de reação rápida para que possam operar especialmente na região de Cabo Delgado num ciclo operacional robusto e autónomo", acrescentou.
O comandante cessante disse que o novo comandante vai continuar a desenvolver esforços para apoiar as forças moçambicanas a desenvolver habilidades para lidar com os direitos humanos em Cabo Delgado.
"A situação em Cabo Delgado é complexa, derivada de muitos fatores, de várias dimensões, a dimensão securitária é meramente uma (...), mas o que tem sido os pilares da nossa formação no desenvolvimento das capacidades de apoio logístico, nós temos dado uma grande ênfase na defesa dos direitos humanitários e perspetivas de género para garantir que a atuação das forças armadas esteja enquadrada por esses pilares", disse Luís Barroso.
"O nosso ponto focal é garantir que essas forças tenham essas capacidades administrativas ao nível da logística para poderem regenerar", acrescentou.
A União Europeia anunciou, em 2024, a adaptação dos objetivos estratégicos da anterior Missão de Formação Militar da UE em Moçambique (EUTM-MOZ), que transitou, em 01 de setembro do mesmo ano, do modelo de treino para um de assistência, passando, assim, a designar-se EUMAM-MOZ.
A EUTM-MOZ, que como a atual EUMAM-MOZ foi liderada por Portugal, formou em dois anos mais de 1.700 militares comandos e fuzileiros moçambicanos, que passaram a constituir 11 companhias de Forças de Reação Rápida (QRF, na sigla em inglês) e já combatem o terrorismo em Cabo Delgado, bem como uma centena de formadores.
A missão em Moçambique foi ainda financiada, através do Mecanismo Europeu para a Paz, para aquisição de todo o tipo de equipamento não letal para estas companhias de forças especiais.
A província de Cabo Delgado, rica em gás e que sofre ataques desde 2017, regista um recrudescimento de ataques de grupos rebeldes desde julho, tendo sido alvos os distritos de Chiúre, Muidumbe, Quissanga, Ancuabe, Meluco e mais recentemente Mocímboa da Praia.
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