No balanço provisório, o Governo francês disse ter detido pelo menos 473 pessoas - 203 delas na região parisiense - e que 175.000 manifestantes (mais do que os 100.000 esperados) participaram em quase mil atos e concentrações em todo o país. As autoridades prepararam um dispositivo de segurança de cerca de 80.000 polícias e gendarmes em Paris e na região metropolitana da capital francesa.
Não ocorreram grandes sabotagens em infraestruturas essenciais para o país, como as energéticas, embora tenha havido ações pontuais de boicote em algumas linhas ferroviárias, como o troço entre Toulouse e Auch (sul), bem como tentativas de invadir as linhas ferroviárias na Gare du Nord em Paris.
Os ativistas também conseguiram bloquear temporariamente autoestradas e circulares de grandes cidades como Paris, Lyon, Marselha ou Rennes.
Uma centena de estabelecimentos de ensino também foram afetados pelas greves.
A capital francesa foi um dos centros dos protestos. Parte do centro da cidade foi fechada ao trânsito e ocorreram saques pontuais na área comercial de Les Halles, onde também estão cinemas e uma piscina.
Na mesma zona, a fachada de um restaurante asiático foi incendiada, uma ação que as autoridades investigam como um ato involuntário e que não deixou vítimas.
Aos meios de comunicação social durante a manhã (hora local), o ministro do Interior francês em funções, Bruno Retailleau, criticou as "ações violentas" de certos manifestantes e afirmou que o dia de protestos "não é uma mobilização cidadã", tendo sido monopolizado pela extrema-esquerda, referindo-se à posição de apoio do partido França Insubmissa (LFI, esquerda radical).
Os manifestantes deste movimento tinham-se mobilizado, num primeiro momento, contra o pacote de cortes que o Governo do ex-primeiro-ministro François Bayrou preparava para 2026 para reduzir o elevado endividamento do país e cumprir os compromissos orçamentais com a UE, com um plano de cortes de quase 44 mil milhões de euros.
No entanto, na segunda-feira, Bayrou caiu na Assembleia Nacional com o chumbo de uma moção de confiança e hoje o novo chefe de Governo, Sébastien Lecornu, tomou posse.
Lecornu, de 39 anos, é o quarto primeiro-ministro que o Presidente francês, Emmanuel Macron, nomeia em apenas 12 meses, tendo sido anterior ministro da Defesa. Saiu das fileiras conservadoras e é fiel colaborador de Macron.
O novo chefe de Governo não deu pistas sobre o tipo de medidas que pretende implementar no projeto orçamental, que deve apresentar antes de meados de outubro, mas promete "mudanças profundas" para tirar a França da crise.
Um dos fios condutores do "Vamos bloquear tudo" - um movimento com algumas semelhanças ao dos "coletes amarelos" de 2018 pelo caráter apartidário e articulação nas redes sociais - é a luta contra a má distribuição da riqueza e o rancor contra Macron.
Na praça da República, em Paris, isolada pela polícia, milhares de pessoas participaram num dos maiores protestos do dia contra o Governo e o chefe de Estado, que juntou mais causas como o racismo, imigrantes indocumentados e bandeiras do Líbano, da Palestina e da Argélia.
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