"Bombardear unilateralmente o Qatar, uma nação soberana e aliada próxima dos Estados Unidos, que está a trabalhar arduamente, corajosamente e a correr riscos para negociar a paz, não promove os objetivos de Israel ou dos Estados Unidos", comentou Karoline Leavitt aos jornalistas, referindo-se à mediação da guerra na Faixa de Gaza.
A porta-voz acrescentou que o ataque, hoje executado em Doha e que provocou pelo menos seis mortos, deixou o líder da Casa Branca, Donald Trump, "muito desconfortável, apesar de a eliminação do Hamas ser "um objetivo louvável", na medida em que o grupo palestiniano "beneficiou com a miséria dos que vivem em Gaza".
Vários meios de comunicação social israelitas, entre os quais a televisão pública Kan, noticiaram que Israel informou os Estados Unidos sobre o ataque dirigido contra os dirigentes do Hamas, quando se reuniam para apreciar uma proposta negocial de Washington na capital do Qatar, que, a par dos Estados Unidos e do Egito, é um dos países mediadores do conflito.
Donald Trump visitou o Qatar em maio, no âmbito de uma viagem a vários Estados da região do Golfo, e que alberga uma importante base militar norte-americana, tendo sido na ocasião presenteado com um Boeing 747-8.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, justificou o ataque hoje executado com o atentado ocorrido na segunda-feira em Jerusalém, reivindicado pelo braço armado do Hamas e que provocou seis mortos.
Além disso, Netanyahu apontou também a participação dos visados nos massacres liderados pelo grupo palestiniano em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, que mataram cerca de 1.200 pessoas e desencadearam o atual conflito no enclave.
O chefe do Governo de Israel defendeu ainda que esta operação militar "poderá abrir caminho para o fim da guerra" na Faixa de Gaza, se o grupo islamita palestiniano aceitar a proposta norte-americana de cessar-fogo.
"Israel aceitou a proposta do presidente Donald Trump de pôr fim à guerra, começando pela libertação de todos os nossos reféns, que estão presos em Gaza há mais de 700 dias. Se aceitarem a proposta de Trump, a guerra pode terminar imediatamente", declarou.
O Hamas anunciou pelo seu lado que cinco dos seus membros morreram na sequência do ataque, mas ressalvou que os responsáveis das negociações e que eram os alegados alvos de Israel sobreviveram.
"Confirmamos que o inimigo não conseguiu assassinar os nossos irmãos da delegação de negociação. Entretanto, vários dos nossos irmãos mártires ascenderam aos mais altos postos de glória", declarou o grupo num comunicado, que inclui os nomes dos cinco mortos.
O Ministério do Interior do Qatar informou pelo seu lado que um polícia qatari morreu no ataque e que outros membros das forças de segurança ficaram feridos.
A operação israelita em Doha foi condenada pela unanimidade dos países da região e pode ameaçar os esforços de paz promovidos por Estados Unidos, Egito e Qatar.
As autoridades de Doha consideraram que se tratou de uma ação cobarde e uma violação da sua soberania.
O ataque ocorre numa fase em que os militares israelitas se prepararam para ocupar a Cidade de Gaza e expulsar centenas de milhares dos seus habitantes, numa região do enclave que a ONU já declarou enfrentar uma situação de fome.
No centro das negociações entre as partes está a pausa das hostilidades, o desarmamento do Hamas e a libertação de 48 reféns que os militantes palestinianos conservam há quase dois anos, dos quais se estima que 20 estejam vivos.
Após os ataques de 7 de outubro de 2023, Israel lançou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou acima de 64 mil mortos, na maioria mulheres e crianças, segundo as autoridades locais controladas pelo grupo islamita, destruiu a quase totalidade das infraestruturas do território e provocou um desastre humanitário sem precedentes na região.
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