De acordo uma sondagem realizada pela ONG International Justice Mission entre 20022 e 2024, antes das manifestações, que continuam no país desde o ano passado, 43% dos 5.700 quenianos entrevistados afirmaram ter sido vítimas de abuso de poder e cerca de 70% deles afirmaram ter testemunhado má conduta por parte dos polícias.
As autoridades quenianas registaram 65 mortos durante quatro dias de manifestações no país, no final de julho, denunciando "um uso desproporcional da força, falta de profissionalismo e violação da segurança pública e dos direitos".
A maioria das vítimas não denunciou os abusos de poder devido à falta de confiança no sistema, observou a ONG norte-americana.
"O problema está enraizado no sistema", sublinhou um dos principais autores do relatório do IJM, Ayub Were, acrescentando que "enquanto o sistema estiver corrompido, sempre haverá" violência policial.
As formas mais comuns de abuso de poder pela polícia queniana são a corrupção (55%) e o assédio (54%), segundo os inquiridos, dos quais 13% relataram agressões que causaram "ferimentos ligeiros".
Os polícias visam frequentemente os jovens, o que também foi denunciado durante as recentes manifestações, de acordo com o estudo.
"Aqui, a polícia vê os jovens como criminosos", declarou uma pessoa entrevistada para o estudo. Outro inquirido afirmou que "ninguém confia na polícia".
Patrick, um funcionário público queniano, foi falsamente acusado em 2015 de posse de uma arma artesanal, detido e espancado pelas autoridades, mas em 2019 saiu vitorioso no tribunal e as acusações foram retiradas.
Os inquiridos também indicaram a sua fraca confiança na justiça, qualificada pelo IJM como "ineficaz nos seus esforços" em casos de abuso de poder por parte da polícia.
O porta-voz da polícia, Michael Muchiri, rejeitou as conclusões do relatório e questionou a sua imparcialidade, acrescentando que os agentes fazem um bom trabalho e que todas as queixas são devidamente investigadas.
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