"Inspirar-me-ei naquilo que os líderes dos grupos pediram à presidente da Comissão [Ursula von der Leyen] na semana passada, ou seja, que não faça um Estado da União semelhante ao de todos os anos", afirmou a líder da assembleia europeia, Roberta Metsola, em entrevista à Lusa e outras agências europeias no âmbito do projeto Redação Europeia (European Newsroom, na sigla inglesa), à margem da sessão plenária na cidade francesa de Estrasburgo.
Um dia antes do habitual discurso anual, Roberta Metsola pediu: "Este ano não se trata apenas de prestar contas e de apresentar uma grande lista [com pedidos] de Natal, mas deve antes haver um entendimento de que o mundo é muito exigente".
"E se nós, no nosso caso como representantes eleitos, não vamos responder às questões muito claras e básicas que os nossos cidadãos nos colocaram no ano passado quando votaram em nós, então o que é que estamos a fazer?", questionou, numa alusão ao Parlamento Europeu, a única instituição europeia eleita.
De acordo com Roberta Metsola, os cidadãos europeus "querem regras mais simples, querem ter uma casa, querem segurança e querem honestidade", perante atuais desafios como a crise da habitação no espaço comunitário, a instabilidade geopolítica devido à guerra da Ucrânia e as críticas à falta de transparência das instituições europeias.
"É isso que eles [os cidadãos] procuram em todos os domínios, quer se trate do acordo pautal e comercial com os Estados Unidos ou com o Mercosul, quer se trate de avançar finalmente com iniciativas legislativas bloqueadas há mais de uma década como a relativa aos retornos [de migrantes] ou a trabalhar em propostas que temos vindo a solicitar e que estão finalmente nesta casa, como a lista de países de origem seguros" - estas duas últimas no que toca às migrações -, elencou.
Além disso, Roberta Metsola pediu a Ursula von der Leyen que a UE "não desista ou não renuncie às suas ambições em matéria de clima", após recentes retrocessos em propostas.
"Quero dizê-lo porque não o dizemos suficientemente e é quase como se estivéssemos a fazer um sem o outro", adiantou.
Ursula von der Leyen (de centro-direita) iniciou, em dezembro passado, o seu segundo mandato na liderança do executivo comunitário e vai, na quarta-feira, proferir o seu primeiro discurso sobre o Estado da União da nova legislatura e o quinto do seu percurso europeu.
A responsável alemã deve defender-se das críticas que é alvo, principalmente sobre o acordo tarifário, visto como prejudicial, com os Estados Unidos, a posição moral considerada fraca sobre Gaza e ainda a controversa amplificação das suas competências na esfera diplomática internacional.
Na entrevista à Lusa e outras agências europeias, Metsola disse ainda existir "uma enorme expectativa em relação ao que será dito" por Von der Leyen, devendo o discurso dedicar "uma parte importante" às guerras da Ucrânia e do Médio oriente.
Depois de Ursula von der Leyen ter 'sobrevivido' a uma moção de censura no Parlamento Europeu por falta de transferência durante o processo de aquisição de vacinas para a covid-19, a líder da assembleia europeia defendeu "estabilidade e previsibilidade" das instituições, mas admitiu que "respostas têm de ser dadas" a questões dos eurodeputados.
Roberta Metsola destacou ainda "a previsibilidade" trazida pelo acordo comercial entre UE e Estados Unidos, embora admitindo que se pode "discutir como foi negociado e se o resultado é perfeito".
Leia Também: Metsola elogia liderança de Costa no Conselho Europeu e rejeita intromissão