"A GERD não é apenas para os etíopes, é para África", afirmou Ahmed, num palco montado em frente ao muro principal da infraestrutura, na região etíope de Benishangul-Gumuz (oeste), a cerca de 15 quilómetros da fronteira com o Sudão, durante a cerimónia de inauguração.
"Esta é a nossa grande conquista: mostrar ao mundo do que somos capazes", sublinhou o líder etíope.
"Aos nossos vizinhos a jusante, quero garantir que não pretendemos prejudicá-los, mas sim buscar uma prosperidade comum", afirmou Ahmed, dirigindo-se, ainda, aos adversários da Etiópia, a quem advertiu que "o compromisso é a melhor opção".
A cerimónia, que foi animada por cantos e danças tradicionais e incluiu um pequeno desfile militar, contou com a presença dos Presidentes de quatro países vizinhos: Quénia (William Ruto); Somália (Hassan Sheikh Mohamud), Djibuti (Ismail Omar Guelleh) e Sudão do Sul (Salva Kiir).
Também estiveram presentes o presidente da Comissão da União Africana (UA), Mahmoud Ali Youssouf, e a primeira-ministra de Barbados, Mia Amor Mottley, entre outros convidados.
A GERD é uma obra com 1,8 km de largura e 145 metros de altura, com uma capacidade total de 74 mil milhões de metros cúbicos de água.
Para o segundo país mais populoso de África, onde cerca de 45% dos 130 milhões de habitantes não têm acesso à eletricidade, é uma garantia de "revolução energética", segundo os especialistas.
A mega barragem deverá atingir, a longo prazo, uma capacidade de produção de 5.000 megawatts (MW), ou seja, o dobro do que a Etiópia produz atualmente.
No entanto, esta potência é muito inferior à das duas maiores barragens do mundo, a de Três Gargantas (22,5 GW) e a de Baihetan (16 GW), ambas localizadas no rio Yangtze, na China.
A GERD permitirá a Adis Abeba gerar receitas significativas através da venda de eletricidade aos seus vizinhos. O primeiro-ministro etíope estimou na semana passada os seus benefícios em mil milhões de dólares (850 milhões de euros) por ano, para um custo total estimado em 4 mil milhões de dólares (3,4 mil milhões de euros).
A mega barragem é um dos poucos assuntos que fazem unanimidade neste país do Corno de África, dilacerado por vários conflitos armados, ainda ativos nas duas regiões mais populosas do país, Amhara e Oromia.
A primeira pedra da GERD foi lançada em abril de 2011. Tanto o partido Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF, na sigla em inglês), no poder até 2018 --- como o Partido da Prosperidade, do primeiro-ministro Abiy Ahmed, reclama o mérito da obra.
Fora da Etiópia, a mega barragem é duramente criticada pelo Cairo, que, temendo o esgotamento da sua principal fonte de abastecimento de água, insiste que ela constitui uma "ameaça existencial" para o Egito. Com cerca de 110 milhões de habitantes, o Egito depende do Nilo para 97% das suas necessidades hídricas, nomeadamente para a agricultura.
O executivo egípcio aproximou-se recentemente dos dois países vizinhos da Etiópia: a Eritreia, que mantém atualmente relações tensas com Adis Abeba, e a Somália.
O Sudão também manifestou a sua preocupação. Juntamente com o Cairo, reiteraram no final de junho "a sua rejeição de qualquer medida unilateral na bacia do Nilo Azul".
Várias tentativas de mediação ao longo da última década entre os três países --- sob a égide sucessiva dos Estados Unidos, do Banco Mundial, da Rússia, dos Emirados Árabes Unidos e da União Africana --- fracassaram.
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