"As negociações não podem ter a mesma forma que tinham antes da guerra. Não é possível que, após o fim da guerra, com todas as suas consequências, voltemos a sentar-nos à mesa de diálogo nas mesmas condições anteriores", afirmou Abás Araqchí, num evento em Teerão, segundo informou a agência oficial IRNA, citada pela EFE.
Araqchí assinalou que o seu país troca mensagens com Washington através de intermediários e que retomará as conversações nucleares no dia em que "os americanos chegarem à conclusão de que estão prontos para uma negociação baseada em interesses comuns e no respeito mútuo".
O chefe da diplomacia iraniana sustentou que as negociações não saíram da agenda, mas adquiriram uma nova forma e dimensões distintas.
"O Irão está disposto a dialogar, mas o respeito pela nossa soberania e o levantamento das sanções são elementos indispensáveis", declarou.
O ministro sublinhou que Teerão "não cederá a pressões nem chantagens", numa aparente referência à exigência de Washington de pôr fim ao enriquecimento de urânio no Irão, algo que este país considera inaceitável.
O Irão e os Estados Unidos tinham iniciado cinco rondas de negociações nucleares desde janeiro e tinham prevista uma sexta reunião, que não chegou a realizar-se devido à guerra com Israel, iniciada dois dias antes com bombardeamentos israelitas contra o país persa.
Os Estados Unidos juntaram-se ao conflito a 22 de junho, com ataques contra três instalações atómicas iranianas, dois dias antes da entrada em vigor da trégua.
O ministro das Relações Exteriores também falou sobre as negociações em curso com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) e garantiu que ambas as partes estão muito próximas de chegar a um acordo sobre um novo quadro de cooperação após os ataques israelitas e americanos contra instalações nucleares iranianas.
O governo iraniano informou na quinta-feira que manterá novas reuniões com a AIEA, em Viena, para chegar a um acordo sobre uma nova modalidade de cooperação, suspensa após uma lei aprovada pelo parlamento após o conflito de junho.
"De acordo com a lei aprovada pelo parlamento e tendo em conta a realidade no terreno e as mudanças que ocorreram, poderemos iniciar uma nova etapa de cooperação com a AIEA, na qual todas as nossas preocupações serão tidas em conta", concluiu.
As declarações de Araqchí foram feitas depois de, em 28 de agosto, o Reino Unido, a França e a Alemanha ativarem o mecanismo de restauração automática das sanções das Nações Unidas contra Teerão por causa do seu programa nuclear.
Os três países europeus, conhecidos como E3, instaram o Irão a regressar à mesa de negociações com os Estados Unidos, retomar a cooperação com a agência nuclear da ONU e fornecer informações sobre o paradeiro de 400 quilogramas de urânio enriquecido a 60% para evitar a reativação das sanções internacionais.
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