Confrontado pelos senadores com alegações dos advogados da demitida Susan Monarez sobre pressões para que aceitasse orientações "não científicas e perigosas" de Kennedy Jr. contra vacinas, este colocou em causa a versão e a capacidade da ex-diretora para liderar a agência.
Kennedy Jr. afirmou ao senador democrata Ron Wyden que "nunca" deu instruções a Monarez, nem teve qualquer reunião privada com a ex-diretora, para que aceitasse as suas recomendações de vacinação, mesmo que não acreditasse que fossem consistentes com as provas científicas, como afirmou esta num artigo de opinião publicado no Wall Street Journal.
"Precisamos de uma nova liderança ousada, competente e criativa" à frente dos CDC, disse o secretário de Saúde de Donald Trump.
Monarez e outros responsáveis demitidos, frisou, "não fizeram o seu trabalho", assegurar a saúde da população.
"Tenho de despedir algumas destas pessoas para garantir que isto não volta a acontecer", declarou durante uma audiência descrita pela agência AP como tensa.
Kennedy Jr. foi acusado por vários senadores democratas de mentir sob juramento, no início deste ano, ao prometer perante os legisladores respeitar a ciência e afirmar que não impediria os norte-americanos de terem acesso a vacinas.
"Senhor, o senhor é um charlatão, é isso que o senhor é", atacou a senadora democrata Maria Cantwell.
Wyden, também democrata, defendeu que "é do interesse do país que Robert Kennedy Jr. se demita e, se não o fizer, Donald Trump deve despedi-lo antes que haja mais vítimas".
Nove ex-diretores do Centro para Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos acusaram esta semana Kennedy Jr. de "pôr em perigo a saúde de todos os norte-americanos" com despedimentos.
A purga em curso no CDC é o mais recente episódio da crise entre o organismo nacional de saúde pública e Kennedy Jr., conhecido pela sua posição antivacinas, que culminou na semana passada com a demissão de Susan Monarez, após menos de um mês no cargo.
No domingo, dois antigos responsáveis desta agência expressaram preocupação com o "risco de destruição" da saúde pública e "de ideologização" das políticas de saúde.
Estes funcionários, na maioria médicos, lideraram o CDC nos últimos quase 50 anos, entre 1977 e 2025, desde o mandato do Presidente democrata Jimmy Carter ao início do segundo mandato do republicano Donald Trump.
"O secretário Kennedy despediu milhares de funcionários públicos federais da saúde pública e cortou drasticamente programas destinados a proteger os norte-americanos de cancro, patologias cardíacas, acidentes vasculares cerebrais (AVC), poluição por chumbo, lesões e violência", escreveram.
"O que ele fez ao CDC e ao sistema nacional de saúde --- especialmente quando decidiu demitir Susan Monarez do seu cargo de diretora --- é diferente de tudo a que já assistimos na agência e de tudo o que o nosso país já viveu", prosseguiram os especialistas.
"Isto é inaceitável e deve servir de alerta para todos os norte-americanos, independentemente da sua orientação política", alertaram os signatários da carta, entre os quais Tom Frieden, que serviu nos dois mandatos do Presidente democrata Barack Obama (2009-2017), e Anne Schuchat, que liderou o CDC em 2017 e 2018, no início do primeiro mandato de Donald Trump.
Para o lugar de Monarez cientista, a Casa Branca vai nomear Jim O'Neill, braço-direito de RFK Jr. e ex-financeiro do setor da tecnologia, como diretor interino, de acordo com o diário The Washington Post.
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