"O primeiro-ministro Modi reiterou o firme apoio da Índia à resolução pacífica do conflito [na Ucrânia] e à rápida restauração da paz e da estabilidade", indicou o seu gabinete num comunicado hoje divulgado após uma conversa telefónica com os líderes da União Europeia (UE), classificando a guerra na Ucrânia uma "questão global de interesse mútuo" para a Índia e a UE.
Na quarta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Johann Wadephul, pediu ao homólogo indiano, Subrahmanyam Jaishankar, que Nova Deli utilize a sua relação única e influente com a Rússia para transmitir a Moscovo "a necessidade do regresso da paz à Europa".
O chefe do Governo indiano reuniu-se esta semana na China com o Presidente russo, Vladimir Putin, a quem sublinhou a necessidade de um acordo de paz rápido na Ucrânia.
Modi, Putin e o Presidente chinês, Xi Jinping, mostraram esta semana, na cimeira de líderes da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), realizada na cidade chinesa de Tianjin, um novo eixo alternativo entre Nova Deli, Pequim e Moscovo.
Antes da cimeira da OCX e do seu encontro com Putin, Modi falou por telefone com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, com quem trocou opiniões sobre o conflito, os seus aspetos humanitários e os esforços para restaurar a paz e a estabilidade na região, uma prioridade para a Índia desde o início da guerra, em 2022.
A posição de Modi sobre a guerra na Ucrânia é única, combinando os seus fortes laços com Moscovo com a necessidade de manter canais de comunicação abertos com Kiev.
Nova Deli insiste que a sua posição sobre a guerra na Ucrânia é de "neutralidade ativa" e apoia o diálogo, mas sem aderir às sanções ocidentais contra a Rússia.
Hoje, a partir de Paris, os presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu instaram o primeiro-ministro indiano a usar "o importante papel" do seu país para conseguir que a Rússia acabe com a sua guerra na Ucrânia e inicie um processo de paz.
"A Índia tem um papel importante a desempenhar para que a Rússia ponha fim à sua guerra de agressão e ajude a abrir um caminho para a paz", afirmaram Ursula von der Leyen e António Costa numa mensagem publicada nas suas redes sociais após a conversa telefónica com Modi.
Os dirigentes da Europa comunitária, que participaram, em Paris, na reunião de líderes da chamada Coligação dos Dispostos para ajudar a Ucrânia, disseram ao chefe do executivo indiano que "esta guerra tem consequências para a segurança global e está a minar a estabilidade económica", e representa "um risco para o mundo inteiro", agradecendo-lhe também "o permanente envolvimento da Índia com Zelensky".
A Ucrânia espera obter da reunião na capital francesa garantias concretas de segurança em terra, mar e ar, que impeçam a Rússia de voltar a invadir o seu território após o fim da guerra atualmente em curso.
A Índia é o segundo maior comprador de petróleo russo, a seguir à China.
Além disso, Von der Leyen e Costa disseram a Modi que planeiam chegar a acordo sobre uma agenda estratégica conjunta na próxima cimeira UE-Índia, "o mais rapidamente possível, em 2026", sublinhando que continuam "totalmente empenhados" em concluir as negociações do Acordo de Comércio Livre UE-Índia "antes do final do ano".
"Para conseguir isso, precisamos de avançar agora", disseram.
Os dois responsáveis europeus debateram igualmente com Modi a criação do Corredor Económico Índia-Médio Oriente-Europa (IMEEC).
Modi convidou Von der Leyen e Costa para a próxima Cimeira Índia-UE, que se realizará no país asiático numa "data oportuna e mutuamente conveniente".
"Com as maiores forças democráticas do mundo, a Índia e a UE partilham uma relação forte e próxima, assente na confiança, em valores partilhados e numa visão comum de futuro. Os líderes destacaram o papel da Parceria Estratégica Índia-UE para enfrentar em conjunto os desafios globais, fomentar a estabilidade e promover uma ordem assente em normas para a prosperidade mútua", referiu o Governo indiano num comunicado.
O acordo comercial entre Nova Deli e Bruxelas está em cima da mesa há anos e recebeu um impulso definitivo em fevereiro deste ano, quando Modi e Von der Leyen se comprometeram a concluí-lo antes do final de 2025.
Os principais obstáculos às negociações, segundo a Índia, são a necessidade de "uma abordagem equitativa às barreiras não-tarifárias" para ambos os blocos, bem como a definição de quadros regulamentares que evitem restrições ao comércio entre os dois atores.
A UE é o segundo maior parceiro comercial da Índia, com um comércio de bens avaliado em 120 mil milhões de euros em 2024, segundo dados da Comissão Europeia.
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