"Gaza foi abandonada pelo nosso governo. Eu e muitos outros profissionais de saúde apresentámos provas fotográficas detalhadas a membros seniores deste governo e do governo anterior. E elas foram ignoradas", afirmou, durante o evento intitulado "Tribunal de Gaza", a decorrer em Church House, perto do parlamento britânico.
O médico-cirurgião, que exerce em vários hospitais em Oxford e ensina na universidade da mesma cidade, trabalhou várias vezes desde 2010 na Faixa de Gaza para ensinar estudantes e em missões humanitárias.
Maynard disse que os governantes "precisam de decidir se querem acreditar nos múltiplos testemunhos de profissionais de saúde, sem interesses pessoais nem agenda política (...) ou na propaganda israelita, que tem sido repetidamente regurgitada pelos meios de comunicação social britânicos para a qual não há provas verificáveis ou credíveis".
Maynard falou das "experiências e testemunhos diários de crimes de guerra, testemunhos diários do que me parece ser claramente genocídio e limpeza étnica".
O profissional descreveu como teve de operar pacientes vítimas de tiros e queimaduras graves ou efetuar amputações sem anestesia e como viu bebés morrerem devido à falta de leite em pó, como os militares destruíram equipamento médico e "atacaram deliberadamente" infraestruturas hospitalares.
"Presenciei a desnutrição grave causada pela fome forçada pelo bloqueio israelita", afirmou.
A iniciativa, que começou hoje e vai durar dois dias, vai escutar testemunhos de advogados, académicos, ativistas e responsáveis de organizações humanitárias, como a diretora executiva dos Médicos Sem Fronteiras, Natalie Roberts, e a relatora especial da ONU sobre os Territórios Palestinianos Ocupados, Francesca Albanese.
Jeremy Corbyn, entretanto expulso do Partido Trabalhista e atualmente deputado independente, afirmou que o "Tribunal de Gaza" foi organizado porque o Governo recusou a proposta que apresentou no Parlamento.
Corbyn questionou a ausência de um embargo total de armas a Israel e quer que seja tornado público a avaliação jurídica interna do Governo sobre a definição de genocídio e a aplicação à situação em Gaza.
O inquérito pretende apurar o que aconteceu em Gaza, quais são as responsabilidades legais do Reino Unido e se estas foram cumpridas e qual foi o papel de Londres no alegado genocídio.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, tem condenado reiteradamente a situação humanitária em Gaza, mas evitou descrevê-la como um genocídio e impôs apenas um embargo parcial de armas.
"Se o Governo não organiza um inquérito público aberto, se o Parlamento não investiga eficazmente o que está a acontecer, cabe-nos a nós fazê-lo. E é isso que vamos fazer nos próximos dois dias", salientou Corbyn.
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