"Somos mais de 365 [reservistas] e ainda estamos a contar. Os soldados que serviram durante a guerra declararam que não se apresentarão ao serviço quando forem convocados novamente", justificou à agência espanhola EFE o sargento Max Kresch, médico que serviu na frente norte com o Líbano.
O militar advertiu que os reservistas não vão participar na "guerra ilegal" promovida pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, na Faixa de Gaza, considerando que é "um dever patriótico" recusar a sua mobilização.
"Recusamos e exigimos responsabilidade aos nossos líderes. Somos os mesmos reservistas e soldados que deixaram tudo no dia 07 de outubro (...), é precisamente este sentido de dever que nos leva a recusar e a manifestar-nos", acrescentou Max Kresch, referindo-se aos massacres executados pelo grupo islamita palestiniano Hamas há quase dois anos no sul de Israel, que desencadearam o atual conflito.
O protesto ocorre numa altura em que o Exército espera que cerca de 60 mil reservistas regressem hoje às suas bases militares, depois de terem sido convocados para a próxima ofensiva terrestre e ocupação da Cidade de Gaza, já sob constantes bombardeamentos israelitas e ordens de evacuação forçada.
Alguns dos reservistas em Telavive disseram à EFE que não acreditam que metade dos notificados responda sequer a esta última convocatória.
Tal como Kresch, outros soldados presentes no protesto condenaram os assassínios deliberados de civis e a fome a que está sujeita a população palestiniana.
Ao fazê-lo, o Governo israelita está a "causar estragos no tecido social do país" e também a colocar judeus em perigo em todo o mundo, alertou.
Além disso, os militares acusaram o chefe do Governo israelita de boicotar vários acordos de tréguas com o Hamas que teriam libertado os reféns ainda no enclave e dos quais se calcula que 20 estejam vivos.
A operação militar em curso, que foi justificada com a destruição dos últimos bastiões do Hamas e libertação dos reféns, poderá colocar as suas vidas "desnecessariamente" em perigo, argumentou.
"É claro que me oponho à ocupação de Gaza e à transferência da população civil. Essa é uma das razões pelas quais a ordem é ilegal", observou pelo seu lado no protesto Ron Feiner, que também serviu no Líbano, embora ignore se a sua opinião é seguida pela maioria dos reservistas.
Israel intensificou hoje os seus preparativos militares, reintegrando milhares de reservistas nas suas fileiras, antecedendo uma nova ofensiva anunciada na Cidade de Gaza.
O Exército israelita está a preparar-se "logística e operacionalmente para extensas operações de combate e para a mobilização massiva de reservistas", indicou um comunicado militar.
Vários órgãos de comunicação social israelitas noticiaram que uma primeira leva de 40 mil reservistas convocados estava a regressar às suas unidades.
"As tropas estão a passar por uma série de exercícios de treino de combate em áreas urbanas e abertas para melhorar a sua prontidão para as próximas missões", acrescentou o Exército, enquanto os ataques israelitas prosseguem na Faixa de Gaza.
O jornal Haaretz noticiou que nem todos os reservistas agora mobilizados vão para a Faixa de Gaza, dado que alguns serão enviados para bases militares na Cisjordânia ocupada e no norte de Israel, que mantém posições militares no sul do Líbano e da Síria.
A ONU declarou oficialmente em agosto uma situação de fome na província de Gaza, no norte do território controlado pelo grupo extremista Hamas desde 2007, o que acontece pela primeira vez no Médio Oriente.
A guerra em curso na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque do Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde fez 1.200 mortos, na maioria civis, e 251 reféns, e alastrou-se ao vizinho Líbano, envolvendo o grupo xiita libanês Hezbollah, mas os combates foram suspensos em 01 de novembro, apesar de múltiplas violações israelitas desse então.
A ofensiva de Israel na Faixa de Gaza já provocou mais de 63 mil mortos, de acordo com as autoridades locais controladas pelo Hamas, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e um desastre humanitário sem precedentes na região.
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