Confrontos na província de Sweida, de maioria étnica drusa no sul da Síria, eclodiram a 13 de julho entre combatentes drusos e beduínos sunitas, antes de forças de segurança e membros de tribos de outras partes da Síria intervirem para apoiar os beduínos.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, reportou na semana passada um novo balanço de 2.000 mortos nos confrontos em Sweida, incluindo 789 civis drusos "executados sumariamente" por "membros dos Ministérios da Defesa e do Interior".
Hoje, a AI afirmou ter documentado "tiroteios deliberados e a execução de 46 drusos" em Sweida "na praça pública, em casas, numa escola, num hospital e num salão cerimonial".
Segundo a organização, vídeos autenticados mostram "homens armados com uniforme militar e membros das forças de segurança, alguns com insígnias oficiais, a executar pessoas desarmadas".
A organização afirmou ter verificado "22 vídeos e fotos" e recolhido testemunhos de 15 pessoas, oito das quais perderam familiares.
"Quando membros das forças militares ou de segurança cometem um assassínio deliberado e ilegal, ou quando as forças afiliadas o fazem com a cumplicidade ou aprovação do governo, isso constitui uma execução extrajudicial, um crime de direito internacional", disse Diana Semaan, investigadora da AI sobre a Síria.
A organização instou as autoridades a "conduzir uma investigação rápida, independente, imparcial e transparente" e a levar os perpetradores à justiça "em julgamentos justos, sem recorrer à pena de morte".
A 31 de julho, o Ministério da Justiça anunciou a formação de uma comissão para investigar a violência intercomunitária em Sweida e levar os responsáveis à justiça.
A AI informou que escreveu às autoridades a 12 de agosto para partilhar as suas conclusões, mas não obteve resposta.
Pelo menos "quatro homens armados com uniformes militares que aparecem em vídeos verificados usavam um distintivo preto (...) comummente associado ao Estado Islâmico" e três foram filmados a "operar ao lado de membros das forças de segurança sírias".
As minorias sírias têm manifestado receios desde a queda, em dezembro, do ex-Presidente Bashar al-Assad, deposto por uma coligação de grupos islamistas e que se apresentava como o protector daquelas.
A AI afirmou ainda estar a investigar "relatos credíveis" de raptos cometidos entre 17 e 19 de julho "por grupos drusos armados e por combatentes de tribos beduínas".
A violência entre combatentes drusos e beduínos sunitas levou à intervenção do exército israelita, que realizou ataques em apoio dos drusos.
Um cessar-fogo pôs fim a uma semana de violência, mas a situação mantém-se tensa desde então.
Síria, Jordânia e Estados Unidos concordaram em meados de agosto criar um grupo de trabalho para ajudar Damasco a manter um cessar-fogo em Sweida, e "resolver a crise" nesta região.
O conflito naquele Síria, que começou em março de 2011, matou quase meio milhão de pessoas e desalojou metade da população, que era de 23 milhões antes da guerra.
Mais de cinco milhões de sírios fugiram do país como refugiados, a maioria para países vizinhos como a Jordânia e o Líbano.
Muitos sírios tinham grandes esperanças depois de o Presidente al-Assad ter sido derrubado do poder por grupos insurgentes, no início de dezembro passado.
No entanto, os assassinatos sectários contra membros da etnia minoritária alauita, à qual pertencia Bashar al-Assad, na região costeira da Síria, registados sobretudo em março, e contra a minoria drusa na província de Sweida, custaram centenas de vidas e deixaram muitos refugiados hesitantes sobre o regresso.
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