François Bayrou recebeu hoje à tarde os dirigentes do Partido Comunista e continuará a série de consultas na terça e na quarta-feira, nomeadamente com os dos partidos que apoiam a coligação presidencial (direita e centro) e os da União Nacional (RN, extrema-direita).
Mas a líder da bancada parlamentar da RN, Marine Le Pen, não esconde que o seu partido irá à reunião com Bayrou por "cortesia republicana" e não espera "nada" dela, estando sobretudo centrado numa potencial dissolução da Assembleia Nacional e na preparação do partido para legislativas antecipadas, de que sairia vitorioso, segundo as sondagens.
"Os franceses esperam uma mudança de liderança, e estamos convencidos de que nós somos essa mudança de liderança", sublinhou hoje Le Pen, na sede da campanha da RN, numa declaração à imprensa.
O líder dos comunistas franceses, Fabien Roussel, foi dizer ao primeiro-ministro "que o seu orçamento é um verdadeiro veneno para França".
"Não o queremos", explicou, referindo-se ao objetivo de François Bayrou de reduzir a dívida francesa através de um corte orçamental de 44 mil milhões de euros.
Em circunstâncias normais, as expectativas centrar-se-iam na reunião de quinta-feira com o Partido Socialista, cujos votos são essenciais para que o Governo evite ser derrubado a 08 de setembro pela oposição conjunta da esquerda e da extrema-direita (RN).
Mas o líder socialista, Olivier Faure, acabou com qualquer dúvida no domingo, insistindo que a decisão dos socialistas de votar contra a moção de confiança no Governo era "irrevogável".
O que propõe é reduzir para metade o corte orçamental e fazê-lo recair "primeiro sobre as grandes fortunas", através de um imposto de 2% sobre património superior a 100 milhões de euros.
O primeiro-ministro garantiu estar pronto para "negociar", mas a forma como criticou a oposição, convocando a opinião pública como testemunha, fazem duvidar da sua verdadeira intenção, mesmo dentro da sua maioria.
O presidente da Assembleia Nacional lamentou particularmente as "palavras desajeitadas" de Bayrou sobre a oposição estar "de férias".
À esquerda, a França Insubmissa (LFI), que defende eleições presidenciais antecipadas, já avisou de que "não confiará num Governo que não tenha um programa de rutura".
Entretanto, a situação política continua a ser acompanhada de perto no estrangeiro.
Todos os riscos de uma queda do Governo "são preocupantes", afirmou hoje a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, porque "têm um impacto claro na economia e na avaliação dos riscos-país pelos mercados financeiros".
Se a moção de confiança, convocada pelo primeiro-ministro centrista para 08 de setembro, numa tentativa de garantir um apoio de princípio à sua proposta de orçamento do Estado para 2026, for chumbada, tal obrigá-lo-á a demitir-se no mesmo dia.
Depois, caberá ao Presidente, Emmanuel Macron, decidir se nomeia outro chefe de Governo, que terá de tentar obter uma maioria na Assembleia Nacional, o que parece impossível de alcançar dada a atual fragmentação, ou se convoca eleições legislativas antecipadas.
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