O Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano comentou em comunicado que a falta de menções ao conflito se deve a divergências com Moscovo entre a China, a Índia e outros países representados na reunião.
"É evidente que Moscovo não conseguiu levar as posições nacionais dos Estados participantes sobre o assunto a um denominador comum aceitável para a Federação Russa", observou a diplomacia de Kyiv.
O comunicado assinala que os esforços diplomáticos de Moscovo procuravam "impor a ideia de que países fora da Europa e da América do Norte" apoiam a posição do Kremlin na guerra, mas fracassaram.
Após a cimeira da Organização de Cooperação de Xangai realizada na cidade chinesa de Tianjin, um coletivo que inclui a Rússia, a China, a Índia e outros países asiáticos, o ministério ucraniano pediu a Pequim que se envolva mais numa solução para o conflito.
"Dado o importante papel geopolítico da República Popular da China, gostaríamos que Pequim desempenhasse um papel mais ativo no restabelecimento da paz na Ucrânia, com base no respeito pela Carta das Nações Unidas", apelou.
Na sua declaração final, os países-membros da organização abordaram "ameaças e desafios à segurança e estabilidade global", com referências ao Médio Oriente, acompanhadas da exigência de cessar-fogo e entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, mas evitaram comentar a invasão russa da Ucrânia.
Durante a reunião, o Presidente russo, Vladimir Putin, voltou à sua narrativa de atribuir as causas do conflito ao Ocidente, demarcando-se da sua responsabilidade ao lançar a invasão no país vizinho há mais de três anos.
"Esta crise não foi desencadeada pelo ataque da Rússia à Ucrânia. É o resultado de um golpe de Estado na Ucrânia, que foi apoiado e provocado pelo Ocidente", sustentou hoje.
A declaração do líder do Kremlin aludia aos protestos pró-Ocidente na praça Maidan, em Kyiv, que em 2014 forçaram a queda do então Presidente ucraniano pró-russo, Viktor Yanukovych.
Na sequência destes acontecimentos, Moscovo anexou a península da Crimeia e começou a apoiar grupos separatistas no leste da Ucrânia, desencadeando um conflito que se prolongou por uma década, antecedendo a invasão em grande escala das forças russas em fevereiro de 2022.
"A segunda causa da crise são as constantes tentativas do Ocidente de atrair a Ucrânia para a NATO", acrescentou o chefe de Estado russo.
Putin discursou perante os seus principais aliados: o homólogo chinês, Xi Jinping, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o Presidente iraniano, Massud Pezeshkian.
"Valorizamos profundamente os esforços e as propostas da China, da Índia e de outros parceiros estratégicos para contribuir para a resolução da crise ucraniana", afirmou Putin.
As propostas de paz entre Moscovo e Kyiv têm fracassado, apesar dos esforços do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para aproximar as partes.
Putin exige que a Ucrânia ceda territórios e renuncie ao apoio ocidental e à adesão à NATO, condições que Kyiv considera inaceitáveis, reivindicando pelo seu lado um cessar-fogo imediato como ponto de partida para um acordo de paz, a ser salvaguardado por garantias de segurança que previnam um nova agressão russa.
À margem da cimeira de Tianjin, Putin tinha previsto para hoje reuniões com os presidentes da Turquia e do Irão e com o primeiro-ministro da Índia.
O anfitrião da cimeira, Xi Jinping, e o homólogo russo deverão ter um encontro bilateral na terça-feira, em Pequim.
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