"Esta decisão dos três países europeus colocará seriamente em risco o processo de interação e cooperação em curso entre o Irão e a Agência", declarou em comunicado o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Teerão, referindo-se à entidade das Nações Unidas que supervisiona o programa nuclear iraniano.
Em reação à decisão dos três países europeus, conhecidos como grupo E3, o chefe da diplomacia da República Islâmica, Abbas Araghchi, considerou que se trata de uma "ação ilegal e injustiçada" que terá uma reposta.
No comunicado, o ministério iraniano indicou que, após tomar conhecimento do anúncio dos países europeus, Abbas Araghchi falou por telefone com os homólogos do E3, a quem transmitiu que espera que "corrijam adequadamente esta decisão errada nos próximos dias" e atendendo às "realidades existentes".
Segundo a carta hoje divulgada, os três países notificam o Conselho de Segurança da ONU, "com base em provas factuais", que o Irão "está em incumprimento significativo dos seus compromissos" do acordo nuclear de 2015.
O grupo E3 invocou nesse sentido a ativação do mecanismo 'snapback', que inicia "um processo de 30 dias para reimpor uma série de sanções suspensas há dez anos".
Ao mesmo tempo, o grupo europeu "fará pleno uso do período de 30 dias" para tentar encontrar uma solução negociada e evitar a reimposição de sanções, indicaram os três países na carta assinada pelos respetivos chefes das diplomacias.
"A escalada nuclear do Irão não deve prosseguir", insistiu o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Noel Barrot, numa mensagem na rede social X, acrescentando por outro lado que "esta medida não sinaliza o fim da diplomacia".
As negociações entre os Estados Unidos e o Irão estão porém estagnadas, a cooperação de Teerão com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) foi bastante reduzida desde junho e as discussões entre a República Islâmica e os países europeus também não têm sido bem-sucedidas.
O mecanismo prevê o congelamento dos ativos iranianos no estrangeiro, a suspensão dos negócios de armas com Teerão e penaliza qualquer desenvolvimento do seu programa de mísseis balísticos, entre outras medidas, pressionando ainda mais a frágil economia do país.
O E3 já tinha avisado em 08 de agosto que poderia desencadear o 'snapback', no seguimento da suspensão das inspeções da AIEA após os ataques israelitas no início da guerra com o Irão, ao longo de 12 dias em junho.
Israel, que justificou os seus ataques com a iminência de uma arma atómica iraniana, eliminou vários elementos da hierarquia militar de Teerão e cientistas ligados ao programa nuclear.
De acordo com a AIEA, antes da guerra, o Irão enriquecia urânio até 60% de pureza --- um pequeno passo técnico para atingir os níveis de 90% para a obtenção de armas - e desenvolveu também um 'stock' de urânio altamente enriquecido suficiente para produzir múltiplas bombas atómicas, caso optasse por fazê-lo.
A República Islâmica argumenta que o seu programa nuclear é pacífico e procura apenas objetivos civis, mas no final de junho, em plena guerra com Israel, os Estados Unidos bombardearam três instalações nucleares iranianas.
É ainda incerto o real dano dos ataques israelitas e norte-americanos contra o programa nuclear iraniano.
A Assembleia-Geral da ONU, que decorrerá em setembro, deverá ter o Irão como um dos seus principais temas.
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