As declarações de Dorothy Shea foram feitas numa reunião do Conselho de Segurança da ONU focada na situação na Faixa de Gaza, na qual a diretora-executiva da organização não-governamental (ONG) Save the Children afirmou que as crianças no enclave palestiniano estão a ser sistematicamente mortas à fome, devido a "uma política deliberada" em que a fome é usada "como método de guerra nos seus termos mais negros".
"Colegas, aproveitamos esta ocasião para rejeitar a falsidade de que existe uma política de fome em Gaza. Desde o início da guerra em Gaza, Israel permitiu que uma quantidade sem precedentes de mais de dois milhões de toneladas de ajuda humanitária fluísse para a Faixa de Gaza", defendeu a diplomata norte-americana.
Na semana passada, e pela primeira vez no Médio Oriente, a ONU declarou um cenário de fome em parte do território da Faixa de Gaza e disse que a situação podia ter sido evitada se não fosse "a obstrução sistemática de Israel".
O Quadro Integrado de Classificação da Segurança Alimentar (IPC, sigla em inglês), um organismo da ONU com sede em Roma, confirmou que uma situação de fome estava em curso em Gaza.
Contudo, Shea acusou os autores do relatório de falta de credibilidade e integridade.
Embora reconhecendo que "há um problema real de fome em Gaza", Shea defendeu que os critérios que a ONU usa para declarar fome "não passam no teste".
"Um dos principais autores do relatório tem um longo historial de preconceitos contra Israel, incluindo a justificação aberta para os ataques terroristas dos Huthis contra alvos civis israelitas. (...) Isto ajuda a explicar porque é que os padrões normais foram alterados para esta declaração, levantando questões significativas", alegou a embaixadora, sem identificar o autor a que se referia.
A diplomata replicou ainda as acusações israelitas de que a ajuda humanitária transportada pela ONU cai frequentemente nas mãos de saqueadores enviados pelo grupo islamita palestiniano Hamas, uma alegação repetidamente negada pela ONU.
"A dura verdade é que a comunidade internacional despejou centenas de milhares de milhões de dólares em Gaza ao longo dos anos, ignorando o facto de estar a subsidiar e a facilitar a criação de um bastião terrorista por parte do Hamas", declarou Shea.
A embaixadora disse igualmente que os Estados Unidos estão a trabalhar em estreita colaboração com o Governo de Israel para aumentar o fluxo de ajuda sem beneficiar o Hamas, e garantiu que estão a "assistir a resultados tangíveis".
Porém, a Fundação Humanitária de Gaza, estrutura apoiada pelos Estados Unidos e por Israel, tem sido considerada uma armadilha a céu aberto, onde centenas de pessoas morreram durante distribuições caóticas de alimentos.
Na reunião do Conselho de Segurança, a representante norte-americana também atacou os países que anunciaram a sua intenção de reconhecer o Estado da Palestina em setembro, incluindo aliados tradicionais de Washington, como Reino Unido, Canadá e Austrália, e disse - sem nomeá-los - que isso equivale a "uma recompensa ao Hamas pelo massacre [de 07 de outubro de 2023]".
"Não é coincidência que as negociações com o Hamas tenham fracassado depois de vários países, incluindo membros deste Conselho, terem anunciado a sua intenção de recompensar efetivamente o Hamas pelo massacre, reconhecendo um Estado palestiniano, enquanto os reféns ainda são mantidos em condições sub-humanas", declarou.
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