A informação foi avançada ao Conselho de Segurança da ONU pelo coordenador das Nações Unidas para o Processo de Paz no Médio Oriente (UNSCO, na sigla em inglês), Ramiz Alakbarov, que explicou que, desde maio deste ano, Israel não transferiu qualquer imposto aduaneiro cobrado em nome da Autoridade Palestiniana.
Israel cobra impostos aduaneiros em nome da Autoridade Palestiniana, que supostamente lhe deve depois remeter, ao abrigo dos Acordos de Oslo assinados em 1994.
No entanto, após os ataques de 07 de outubro de 2023, Israel deixou de pagar integralmente estas receitas aduaneiras, alegando que se recusava a financiar o movimento islamita palestiniano Hamas, no poder na Faixa de Gaza desde 2007 e que considera uma "organização terrorista".
"Tudo isto representa uma grave ameaça à economia e ao sistema bancário palestinianos. Se não for resolvido, poderá ameaçar a viabilidade da Autoridade Palestiniana", frisou hoje Ramiz Alakbarov.
A expansão da campanha militar de Israel em Gaza e a fome no enclave palestiniano foram alguns dos principais temas abordados na reunião de hoje do Conselho de Segurança da ONU.
Ramiz Alakbarov afirmou que Gaza está a afundar-se num desastre cada vez maior, marcado pelo rápido aumento de vítimas civis, deslocações em massa e, agora, pela fome.
Também a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, enfrenta uma crise sem precedentes, com a ONU a avaliar que a expansão implacável dos colonatos, as demolições e a intensificação da violência continuam a minar qualquer perspetiva de paz.
"A escolha não podia ser mais clara: continuar no atual caminho de conflito perpétuo, consolidando a ocupação --- ou reafirmar o compromisso com um processo político que resolva o conflito, ponha fim à ocupação e concretize uma solução de dois Estados", disse Alakbarov.
Sobre a recente decisão do Governo israelita de tomar a Cidade de Gaza, o representante da ONU observou que os palestinianos estão agora "a ver os seus piores medos a tornarem-se realidade", num momento em que mais de 86% da Faixa de Gaza já se encontra dentro de zonas militares israelitas
A expansão das operações militares em Gaza terá consequências catastróficas, incluindo a deslocação de centenas de milhares de pessoas, alertou o representante.
"Pelo bem da humanidade, insto todas as partes a pôr imediatamente fim a esta guerra brutal", instou.
Na reunião esteve igualmente a secretária-geral adjunta da ONU para Assuntos Humanitários, Joyce Msuya, que se focou na fome em Gaza, ressaltando que praticamente ninguém está incólume à fome no enclave.
A ONU estima que pelo menos 132.000 crianças com menos de 5 anos sofram de subnutrição aguda entre hoje e meados de 2026. Já o número das crianças que estão em risco de morte pela fome triplicou para mais de 43.000.
"Sejamos claros: esta fome não é produto de seca ou de algum tipo de catástrofe natural. É uma catástrofe criada", insistiu Msuya.
Para a reunião de hoje, Israel convidou Ilana Gritzewsky, ex-refém do grupo islamita palestiniano Hamas, que recordou o terror que viveu em cativeiro às mãos dos extremistas, após ter sido arrastada da sua casa em 07 de outubro de 2023.
"Eles agarraram-me pelos cabelos, bateram-me na barriga, fizeram-me perder o fôlego. Arrastaram-me pelo chão, levantaram-me, atiraram-me contra a parede e apontaram-me armas", contou, indicando que os sequestradores a abusaram sexualmente no caminho para Gaza.
Ilana Gritzewsky lembrou que os captores acordavam os reféns no meio da noite para interrogatórios cruéis.
Durante o cativeiro, a jovem descobriu que o seu namorado, Matan Zangauker, também era refém.
Matan Zangauker ainda não foi libertado pelo Hamas, pelo que Ilana Gritzewskya aproveitou a oportunidade para pedir ao Conselho de Segurança que use a sua influência, poder e responsabilidade para exigir a libertação incondicional de todos os reféns.
[Notícia atualizada às 18h48]
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